Neste Natal, ao folhear*, numa casa de famiares, a edição portuguesa (pós-25 de abril) do álbum "Tintin na América", recordei o facto de um dia me ter dado conta de que a primeira aparição da história em Portugal havia sido objeto de uma discreta intervenção da censura. Já aqui havia falado do assunto, mas só agora posso documentar esse ridículo ato censório.
Hoje, dei-me ao cuidado de procurar, na coleção completa do "Cavaleiro Andante" (1952-1962), de que sou feliz proprietário, e lá fui encontrar, no nº 210, de Janeiro de 1956, a primeira imagem dessa história**. Olhem para ela:
O Estado Novo, na sua cuidadosa preservação das figuras da autoridade, entendeu não dever permitir que um polícia pudesse ser apresentado a fazer a continência a um gangster.
O "Cavaleiro Andante" optou também por uma tradução livre do texto original francês, que - já agora! - assim reza: "À Chicago, où règnent en maîtres les bandits de toutes espèces, un soir..." Talvez tivesse sido ponderada a necessidade de remeter para um prudente e bem qualificado passado essas mesmas aventuras. Não fosse dar-se o caso de, em 1952, alguém ter a veleidade de pensar que, noutras partes do mundo, pudesse haver "bandits de toutes espèces" a reinarem sob a proteção de polícias...
* Eu havia escrito "desfolhar", o que era um enormíssimo erro. Um leitor atento corrigiu-me, o que agradeço.
**Para os mais curiosos e conhecedores da obra de Hergé, noto que a história tal como publicada no "Cavaleiro Andante" é claramente baseada na primeira edição do "Tintin en Amérique", que surgiu na revista belga "Le Petit Vingtième", em 1931, o que justifica a total diferença na coloração (a versão original era a preto-e-branco), para além de bizarros pormenores de "publicamente correto" que não vêm para o caso...
O "Cavaleiro Andante" optou também por uma tradução livre do texto original francês, que - já agora! - assim reza: "À Chicago, où règnent en maîtres les bandits de toutes espèces, un soir..." Talvez tivesse sido ponderada a necessidade de remeter para um prudente e bem qualificado passado essas mesmas aventuras. Não fosse dar-se o caso de, em 1952, alguém ter a veleidade de pensar que, noutras partes do mundo, pudesse haver "bandits de toutes espèces" a reinarem sob a proteção de polícias...
* Eu havia escrito "desfolhar", o que era um enormíssimo erro. Um leitor atento corrigiu-me, o que agradeço.
**Para os mais curiosos e conhecedores da obra de Hergé, noto que a história tal como publicada no "Cavaleiro Andante" é claramente baseada na primeira edição do "Tintin en Amérique", que surgiu na revista belga "Le Petit Vingtième", em 1931, o que justifica a total diferença na coloração (a versão original era a preto-e-branco), para além de bizarros pormenores de "publicamente correto" que não vêm para o caso...
Sem comentários:
Enviar um comentário