Banqueiro suíço entrega ao fundador da WikiLeaks dados “para educar a sociedade” sobre o montante da receita fiscal potencialmente perdida em esquemas offshore. Por Esther Addley, The Guardian
Julian Assange e Rudolf Elmer: acusações de evasão fiscal e lavagem de dinheiro em offshores
Julian Assange, o fundador da WikiLeaks, comprometeu-se esta terça-feira a tornar públicas as informações confidenciais fiscais de 2.000 indivíduos ricos e proeminentes, após ter recebido os dados de um banqueiro suíço que afirma que as informações potencialmente expõem casos de lavagem de dinheiro e de evasão fiscal ilegal em grande escala. Numa entrega cuidadosamente coreografada, em Londres, Rudolf Elmer, ex-executivo sénior do banco suíço Julius Baer, com sede nas ilhas Caimão, disse que estava a entregar os dados à WikiLeaks como parte de uma tentativa de “educar a sociedade” sobre o montante das receitas fiscais potencialmente perdidas devido aos regimes de offshore e de lavagem de dinheiro. “Como banqueiro, tenho o direito de me erguer contra algo que está errado”, disse ele. “Eu sou contra o sistema. Eu sei como funciona o sistema e conheço o dia-a-dia do negócio. Quero que a sociedade saiba como funciona esse sistema, porque é prejudicial à sociedade”, disse. Elmer vai comparecer num tribunal suíço esta quarta-feira, acusado de infringir as leis de sigilo bancário suíço, de falsificação de documentos e envio de mensagens ameaçadoras a dois funcionários da sua antiga entidade patronal.
Ele nega as acusações.
Elmer recusou-se a comentar sobre o espaço de tempo coberto pelos dados, contidos em dois CDs, ou a precisa fonte das informações, e também não forneceu os nomes de quaisquer empresas ou indivíduos cujos detalhes bancários estão nos CDs, dizendo que as informações precisam ser investigadas antes de ser levadas ao domínio público. Assange, que fez a sua primeira aparição pública desde que em Dezembro saiu da prisão sob fiança, devido a alegações de agressão sexual, pelas quais a Suécia procura obter a sua extradição, disse que iria passar as informações para o Serious Fraud Office (SFO), examiná-las, para garantir que as fontes ficam protegidas e, em seguida publicá-las no site da WikiLeaks, potencialmente dentro de “duas semanas”.
“Logo que verificarmos os dados, sim, haverá uma divulgação completa”, disse.
Ele não quis comentar perguntas relativas ao processo de extradição, que será decidido pelos magistrados do tribunal de Belmarsh em 7 de Fevereiro, ou sobre outras fugas de informação que prometeu divulgar em breve, incluindo informação relativa a um “ grande banco dos EUA”, que muitos acreditam ser o Bank of America. O site ainda não está totalmente funcional, disse. “Ainda não estamos abertos aos negócios públicos. O volume de material que receberíamos é muito alto para os nossos mecanismos internos, mas estamos a receber de outras formas, como esta”, disse. A divulgação de telegramas da diplomacia dos EUA, que o site originalmente fez através do The Guardian e outros quatro meios de comunicação, continuará. Elmer disse que estava a entregar as informações para a WikiLeaks porque já tinha antes abordado universidades com as informações, mas não lhe deram seguimento. Ele disse que as suas tentativas de interessar os média suíços tiveram apenas como consequência ser apontado como “uma pessoa paranóica, mentalmente doente”. “Eu estava quase a desistir, mas depois um amigo disse-me: 'Há a WikiLeaks'. Olhei para ele e pensei: 'Esta é a única esperança que tenho que fazer com que a sociedade saiba o que está a acontecer'”. Em 2008, ele entregou ao site um conjunto muito menor de documentos, também detalhando as informações fiscais de alguns dos clientes do banco. Embora o site nunca tenha publicado essa informação, Julius Baer conseguiu brevemente tirar de linha o site Wikileaks.org, até que o site, apoiado por alguns média dos EUA e organizações de liberdades civis, conseguiu derrubar a medida judicial. Ele também passou a informação às autoridades fiscais dos EUA. Os dados foram mais tarde vistos pelo Guardian, que encontrou “detalhes de numerosos fundos em que os ricos tinham colocado capital. Isso permite-lhes evitar pagar impostos sobre os lucros, uma vez que legalmente o dinheiro pertence ao fundo.” Os dados também “[parecem] incluir vários casos em que indivíduos ricos tentaram utilizar o dinheiro do fundo, como se fosse seu.” Numa declaração ao Observer na sexta-feira, Julius Baer disse: “O objectivo das acções [de Elmer] foi, e é, desacreditar Julius Baer, bem como os clientes, aos olhos do público. Com este objectivo em mente, o senhor Elmer espalhou acusações infundadas e repassou documentos ilegalmente adquiridos para os média, e mais tarde também para a WikiLeaks. Para dar apoio à sua campanha, ele também usou documentos falsificados”. Uma porta-voz do Serious Fraud Office disse que iria “analisar as alegações feitas para determinar se o assunto é da sua competência e está no âmbito dos seus critérios de investigação ou se, possivelmente, é para outra autoridade analisar”. Tradução de Luis Leiria para o Esquerda.net
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