terça-feira, 25 de janeiro de 2011

É melhor um fim horroroso ou um horror sem fim?

Esta questão do 'Wall Street Journal', se colocada a Portugal e à Europa, exige uma resposta diferente: é preciso acordar do pesadelo e encarar a realidade. É melhor um fim horroroso ou um horror sem fim? Esta questão do 'Wall Street Journal', se colocada a Portugal e à Europa, exige uma resposta diferente: é preciso acordar do pesadelo e encarar a realidade. A questão é de perspetiva. Para o que poderia ter acontecido, quarta-feira foi uma preciosa vitória da credibilidade de Portugal. O Governo tem motivo para celebrar (e a oposição para ficar um pouco desiludida com mais esta vitória governamental).

Mas agora o quê?

Pagamos juros a 6,71% e isso quer dizer que estamos a ficar mais pobres, a pagar mais caro o dinheiro que temos de pedir. Celebramos? Sim, podemos ainda celebrar o facto de resistirmos ao FMI melhor do que outros países, de sermos barreira à Espanha, de estarmos a dar o peito às balas que disparam contra o euro e, mesmo assim, mantemo-nos de pé. E, claro, enquanto há vida há esperança, e ainda temos um restinho de hipótese, um caminho estreito para fugirmos da vereda trágica, da desgraça que seria entrar o FMI pelo país dentro. Mas ninguém se ilude, porque o pesadelo não acaba. Estamos ainda no ponto de mira dos investidores. Os nossos bancos devem agora mais ao Banco Central, a China vai-se firmando como credora que exige retornos que não conhecemos; os juros vão subindo e o controlo orçamental, se quisermos manter o caminho, será duríssimo ao passo que o crescimento previsto da Economia vai ser... negativo! Ou seja, produzimos menos para pagar mais e ficamos todos com menos dinheiro - é o pesadelo! Poderemos acordar e encarar a realidade? Sim, mas é necessária outra liderança na Europa e em Portugal. É preciso que a Europa entenda que a união monetária carece de outras uniões, nomeadamente fiscal e política. Será exigível que europeus do Norte olhem os do Sul como membros da mesma (da sua) comunidade e não como estranhos indolentes. E será indispensável que muito do poder que hoje reside em Berlim e em Paris passe para um verdadeiro governo europeu, ao mesmo tempo que este necessita de leis e regras muito mais democráticas e muito menos burocráticas. Também é indispensável que os governos nacionais, como o nosso, se deixem de pequenos truques contabilísticos como o da transferência de fundos de pensões, ou desorçamentações várias, que não são feitos para enganar - porque não enganam ninguém - mas para fornecer uma desculpa aos que fingem não ver (como fingiram não ver o logro que a Grécia montou). É por ser tão difícil acordar que o pesadelo tende a eternizar-se no horror sem fim. Daqui a três meses (ou antes) cá estaremos, coração nas mãos, à espera que um bloco de cimento nos caia na cabeça. E se nos cair apenas um tijolo, iremos todos celebrar!

É, pois, preciso acordar. Para não ter de escolher entre o horror sem fim e o fim horroroso...

Henrique Monteiro - Expresso.

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