Francisco Seixas da Costa
Portugal tem poucas "marcas" internacionais. Ao longo de toda a minha vida profissional, testei as imagens que o nosso país foi fixando nos outros. Fui avaliando o modo como elas se revelavam identitárias, a sua solidez, a sua permanência no tempo. Através do olhar estrangeiro, medi a sua importância para o "retrato" que de todos nós foi sendo desenhado. Dentre as poucas que Portugal deixou pelo mundo, a marca "Espírito Santo" surgiu-me sempre como sendo tido por um "valor" seguro. Nunca tive a mais remota relação com o grupo, nem sequer fui depositante do banco. Mas habituei-me a ver o nome "Espírito Santo" respeitado e admirado. E isso não é indiferente a quem, como eu, levou a vida a tentar sustentar a imagem de Portugal no estrangeiro. A família Espírito Santo, com algumas outras, pagou, no pós-25 de abril, a circunstância ter sido um importante suporte da ditadura que nesse dia terminou, bem como o facto de ter beneficiado de um regime colonial cujo prolongamento no tempo foi fonte de muito sofrimento, em Portugal como em África. Com dignidade, respeitando as novas regras, o grupo Espírito Santo conseguiu retomar o seu papel no âmbito da economia portuguesa, aproveitando a lógica de mercado consensualizada em democracia. Até o conseguir, o grupo foi apoiado por amigos que, no exterior, confiaram na palavra e na honorabilidade dos seus membros. E isso não é coisa pouca nos dias que correm. Por todas estas razões, e não obstante as culpas próprias do presente, recuso-me a comungar dos sorrisos irónicos, de origens bem diversas, de quantos olham para o momento menos bom que o grupo Espírito Santo hoje atravessa. |
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