segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Kennedy e Portugal

Francisco Seixas da Costa

 

John Kennedy morreu há 50 anos. Contrariamente à ideia de que este é um dos momentos da vida em que todos nós sabemos onde estávamos, devo dizer que não tenho a menor recordação de quando soube do assassinato do presidente americano, embora deva ter sido lá por Vila Real. Depois disso, sobre ele e sobre a sua morte, devo ter lido mais do que sobre qualquer outro chefe de Estado americano.

 

Hoje à tarde, numa palestra que fiz a algumas dezenas de empresários, sobre a política externa angolana e o papel de Angola no mundo e, naturalmente, o futuro das relações com Portugal, lembrei um facto que julgo ser muito pouco conhecido. É sabido que, no início dos anos 60 do século passado, a administração democrática americana, então titulada por Kennedy, promoveu ações de financiamento destinadas às forças independentistas angolana. Mas um facto pouco notado é que os Estados Unidos terão pedido a Israel para formar guerrilheiros para a luta anti-colonial contra as tropas portuguesas, sendo que esses combatentes pertenciam à UPA (União dos Povos de Angola), que depois viria a chamar-se FNLA, e que havia sido responsável por algumas das mais sangrentas ações no Norte de Angola, de que maioritariamente foram vítimas populações civis. Kennedy era, assim, uma "bête noire" do governo português de então e, de facto, outros relatos confirmam a sua profunda hostilidade ao regime de Salazar e, muito em especial, à sua política colonial.

 

Kennedy deixou na História uma imagem simpática. A sua morte trágica, cedo na vida, naquele dia 22 de novembro de 1963, garantiu-lhe um lugar na mitologia, política e não só, à escala global. Como entre nós aconteceu com Sá Carneiro, o jovem presidente americano ficou registado no imaginário coletivo à luz daquilo que foi o seu passado, como se acaso o seu futuro viesse necessariamente a ser um mero prolongamento desse mesmo passado, e coerente com ele. Ilusões.


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