Domingos Amaral
Com um triunfalismo um pouco excessivo, Passos Ceolho afirmou que "o tempo do pessimismo está a acabar"! Por vezes, tenho a sensação que está na moda este uso de explicações psicológicas e sentimentais para explicar as flutuações da economia. É como se tudo se reduzisse a "estados de alma", "emoções", "comportamentos desviantes", coisas assim. É evidente que a psicologia e as expectativas dos povos têm efeitos sobre a economia, mas convinha não exagerar. A nossa crise não foi uma crise de pessimismo, nem de pessimistas. A crise portuguesa existiu por muitas e variadas razões, e nenhuma delas foi psicológica. Existiu porque houve uma terrível crise financeira internacional, em 2008. Existiu porque essa crise gerou outra, uma crise do euro, a partir de 2009. Existiu porque a crise do euro gerou a crise das dívidas soberanas, lançando muitas dúvidas sobre a capacidade de certos países conseguirem pagar as suas dívidas, e as taxas de juro subiram. E existiu porque a linha que as troikas escolheram, e que Passos aplicou como aluno empenhado, provocou uma recessão brutal! Reduzir tudo isso a "pessimismo" é um doce engano. As pessoas não deixaram de consumir apenas porque estivessem "apreensivas" ou "pessimistas"! As pessoas deixaram de consumir sobretudo porque pura e simplesmente têm muito menos dinheiro disponível agora, ou porque foram parar ao desemprego, o que é bem diferente de pessimismo... Quem pensar que é com excitações psicológicas que tira o país da crise, está a alimentar uma estranha ilusão. A melhoria recente da economia portuguesa não se deve a uma diminuição do pessimismo, ou a um súbito aumento de optimismo. A verdade é que houve mais turismo, mais exportações, e taxas de juro um pouco mais baixas. Ou seja, quem está optimista são os estrangeiros, os turistas que nos vêm visitar, os países que nos compram as exportações, e os investidores que compram a nossa dívida pública nos mercados internacionais. Esses sim, já não estão pessimistas! E isso melhora um pouco a nossa vida, mas não muito. A verdade é que os portugueses, em geral, ainda não sentem grandes melhorias na sua vida. Optimistas ou pessimistas, o pilim no final do mês continua curto. E enquanto for assim, não há psicologia que nos valha... |
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