quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Católica?

Francisco Seixas da Costa

 

Desde há muito, é para mim um insondável mistério o modo como a Universidade Católica Portuguesa consegue compatibilizar a observância e o respeito pela doutrina social da sua igreja, que deveria ser a matriz identitária da casa, com a promoção obsessiva de um liberalismo económico radical, que constitui a imagem de marca de (quase) toda a "produção" saída da sua linha de montagem académica, nas últimas décadas.

 

Não está em causa a qualidade intelectual desses quadros, gente tecnicamente muito bem preparada, com alguns dos quais convivo no meu dia-a-dia profissional e em outros círculos em que me movo. Esse fascínio cego e absoluto pelas virtudes da "mão invisível", parece ter-se convertido na doutrina oficiosa da casa (e leiam-se os textos que ela produz para não se ter, sobre isto, a menor dúvida), e baseia-se no culto de modelos extremos de competição e de destruição, por opção ideológica, de todas as estruturas de defesa do bem público comum. Assim se sacrifica a vida de gerações, forçadas à crença salvífica num novo tipo de "amanhãs que cantam", como o comprova a orientação política que entre nós prevalece, com os resultados que estão à vista de toda a gente. E assim se empurra, pelos vistos sem remorso, os excluídos da sorte dos mercados para as margens do sistema e para os caminhos da caridade, nicho de contrição onde alguns absolvem ao fim do dia a sua consciência, em voluntariados que remendam os efeitos das políticas que geraram essas desiguadades. Tudo isto é feito em lugar de colocar as pessoas no centro dos interesses das políticas económicas, as quais, pela ética católica (e não só), existiriam para construir o bem-estar dos homens e não para a "réussite" dos mais fortes entre eles, os quais, depois, mandam os filhos "para a Católica", fechando assim o círculo da hipocrisia. Se isto é ser católico, então vou ali e já venho...

 

Por essa razão, estou muito curioso para saber a opinião da escola económica da UCP sobre aquilo que ontem foi dito pelo papa Francisco a propósito da economia e do sistema prevalecente na sociedade em que vivemos.


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