Em 1975, a vida estava a mudar. Simultaneamente, para o país e para mim.
O Verão desse ano ficou conhecido, na História política portuguesa, como o "Verão quente", por virtude de nele se terem agudizado os conflitos que vinham a opor os sectores mais moderados do Movimento das Forças Armadas com as correntes radicais, em especial com a chamada "esquerda militar", onde a influência do Partido Comunista se fazia sentir como determinante.
Foi em Agosto desse ano que assumiu funções o efémero V Governo Provisório, tributário de um vanguardismo que veio a revelar-se suicida e que era, ele próprio, sintoma do crescente isolamento em que o general Vasco Gonçalves e os que o acompanhavam se iam acantonando.
É também nesse mês que surge o chamado "Documento dos Nove", uma espécie de manifesto de militares moderados, da autoria de Melo Antunes (e muito com o dedo de escrita do actual embaixador Luís Castro Mendes, diga-se), à sombra do qual logo se colocaram todas as forças moderadas e conservadoras, que temiam a deriva radical que pressentiam que o país estava a seguir.
(Já agora, vale a pena dizer aqui, de forma bem clara, que a classe política cujo poder veio a emergir, no seio da vida democrática que a coragem dos "Nove" ajudou a proporcionar ao país, acabou por ser fortemente ingrata para com muitos desses homens. Mas isso são outras histórias...).
Agosto de 1975 foi também o mês da minha entrada no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Tempos antes, num impulso que teve muito mais de lúdico do que de reflectido, eu decidira candidatar-me à carreira diplomática, um passo estimulado pelo diplomata e meu colega de tropa, António Franco, e que eu via também como um desafio interessante para mim mesmo. Estava no serviço militar desde 1973, andava fortemente envolvido nas ondas da Revolução, e achei graça testar a minha capacidade numa área que sempre me interessara, mas por onde nunca sonhara passar - por ser, diga-se em abono da verdade, um terreno profissional cuja imagem pública me não seduzia minimamente e de cuja caricatura tudo me afastava.
As múltiplas provas de acesso, espalhadas ao longo do primeiro semestre de 1975, foram já como que um prenúncio da vida civil a que, em qualquer circunstância, eu regressaria em breve. Desde 1971 que era funcionário da Caixa Geral de Depósitos e, acabado o serviço militar, para aí voltaria, com um salário bem melhor do que aquele que o MNE então oferecia.
Com alguma surpresa minha, face às expectativas que tinha, acabei por ser admitido na carreira diplomática! E agora?! Que fazer? para utilizar o título de um autor que, à época, estava a ter dias de glória nas estantes portuguesas. Acabei por "arriscar"...
E foi assim que, na cálida manhã de 13 de Agosto de 1975, de cabelo bastante comprido e com um bigode façanhudo, coloquei uma relutante gravata e tomei posse como diplomata, num grupo de "adidos de embaixada", o primeiro, aliás, em que às mulheres foi autorizada a admissão na profissão - uma abertura que, registe-se, se havia ficado a dever ao anterior MNE, Mário Soares.
Graças ao 25 de Abril, não tive então de ler o juramento a que o Estado Novo obrigava os funcionários públicos (e que cito, de cor, sem a total certeza de estar a a ser 100% fiel ao texto): "Declaro, por minha honra, que estou integrado na ordem política e social instituída pela Constituição da República portuguesa de 1933, com activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas".
A partir de então, podia pensar o que quisesse. Pelo menos, eu julgava isso.
O Verão desse ano ficou conhecido, na História política portuguesa, como o "Verão quente", por virtude de nele se terem agudizado os conflitos que vinham a opor os sectores mais moderados do Movimento das Forças Armadas com as correntes radicais, em especial com a chamada "esquerda militar", onde a influência do Partido Comunista se fazia sentir como determinante.
Foi em Agosto desse ano que assumiu funções o efémero V Governo Provisório, tributário de um vanguardismo que veio a revelar-se suicida e que era, ele próprio, sintoma do crescente isolamento em que o general Vasco Gonçalves e os que o acompanhavam se iam acantonando.
É também nesse mês que surge o chamado "Documento dos Nove", uma espécie de manifesto de militares moderados, da autoria de Melo Antunes (e muito com o dedo de escrita do actual embaixador Luís Castro Mendes, diga-se), à sombra do qual logo se colocaram todas as forças moderadas e conservadoras, que temiam a deriva radical que pressentiam que o país estava a seguir.
(Já agora, vale a pena dizer aqui, de forma bem clara, que a classe política cujo poder veio a emergir, no seio da vida democrática que a coragem dos "Nove" ajudou a proporcionar ao país, acabou por ser fortemente ingrata para com muitos desses homens. Mas isso são outras histórias...).
Agosto de 1975 foi também o mês da minha entrada no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Tempos antes, num impulso que teve muito mais de lúdico do que de reflectido, eu decidira candidatar-me à carreira diplomática, um passo estimulado pelo diplomata e meu colega de tropa, António Franco, e que eu via também como um desafio interessante para mim mesmo. Estava no serviço militar desde 1973, andava fortemente envolvido nas ondas da Revolução, e achei graça testar a minha capacidade numa área que sempre me interessara, mas por onde nunca sonhara passar - por ser, diga-se em abono da verdade, um terreno profissional cuja imagem pública me não seduzia minimamente e de cuja caricatura tudo me afastava.
As múltiplas provas de acesso, espalhadas ao longo do primeiro semestre de 1975, foram já como que um prenúncio da vida civil a que, em qualquer circunstância, eu regressaria em breve. Desde 1971 que era funcionário da Caixa Geral de Depósitos e, acabado o serviço militar, para aí voltaria, com um salário bem melhor do que aquele que o MNE então oferecia.
Com alguma surpresa minha, face às expectativas que tinha, acabei por ser admitido na carreira diplomática! E agora?! Que fazer? para utilizar o título de um autor que, à época, estava a ter dias de glória nas estantes portuguesas. Acabei por "arriscar"...
E foi assim que, na cálida manhã de 13 de Agosto de 1975, de cabelo bastante comprido e com um bigode façanhudo, coloquei uma relutante gravata e tomei posse como diplomata, num grupo de "adidos de embaixada", o primeiro, aliás, em que às mulheres foi autorizada a admissão na profissão - uma abertura que, registe-se, se havia ficado a dever ao anterior MNE, Mário Soares.
Graças ao 25 de Abril, não tive então de ler o juramento a que o Estado Novo obrigava os funcionários públicos (e que cito, de cor, sem a total certeza de estar a a ser 100% fiel ao texto): "Declaro, por minha honra, que estou integrado na ordem política e social instituída pela Constituição da República portuguesa de 1933, com activo repúdio do comunismo e de todas as ideias subversivas".
A partir de então, podia pensar o que quisesse. Pelo menos, eu julgava isso.
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