Domingos Amaral
Quando morre um grande homem, devemos pensar sobretudo no exemplo que ele nos deu ao longo da sua vida. Mandela foi um exemplo de perdão e capacidade de mudança. Passou décadas preso, numa cela minúscula, mas quando um dia lhe devolveram a liberdade física, o mundo percebeu que ele nunca estivera preso dentro de si próprio. Se todos esperavam um rebelde, um ressentido, um homem com vontade de ajustar contas com os seus inimigos, ele mostrou que era o oposto disso. Mal saiu da prisão, perdoou décadas de humilhações e provou que não seriam os ressentimentos a marcar o seu futuro. Foi por isso que a paz foi possível na África do Sul, e foi por isso que o maligno regime do "apartheid" acabou, porque Nelson Mandela foi capaz de superar o passado e sorrir ao futuro. Com De Klerk, fundou um novo regime, ao qual depois presidiu, com bom senso e inteligência. Segurou os radicalismos negros, pacificou, e apostou no que unia os homems e as mulheres do país, e não no que os dividia. É um exemplo político extraordinário, mas é sobretudo um exemplo humano extraordinário. Muito poucos homens seriam capazes de, dentro do seu coração, promover um esquecimento intencional do passado e do sofrimento individual, em nome do futuro do seu país. Só por isso, entrou na História Universal. Não entrou apenas na história do seu país, ou do seu continente, entrou na história do mundo. Nos finais do século XX, poucos políticos podem dizer que mudaram o planeta, mas Mandela pode. E tudo isso com um sorriso, um dos mais belos sorrisos que a política nos deu, sempre estampado na cara. Ele sabia que, na vida das pessoas ou dos povos, um sorriso de um grande chefe pode mudar tudo para sempre. |
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