quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Nós e a Alemanha

Francisco Seixas da Costa

 

O porta-voz do PS acaba de considerar que a vitória esmagadora da CDU/CSU é "um mau resultado para a Europa". 

 

Não sei se é ou não, só sei que Angela Merkel, se os socialistas forem poder em Portugal durante os próximos quatro anos, será a chefe do governo alemão com a qual o primeiro-ministro socialista vai ter de lidar, com a qual vai trocar, na sua primeira deslocação a Berlim, naturalmente ido de Paris, os beijos sorridentes da coreografia diplomática tradicional, com a qual subscreverá, em conferência de imprensa à saída do "diálogo frutuoso e construtivo" que constituiu esse encontro conjunto (que uma fonte anónima de S. Bento deixará cair à comunicação social que durou muito para além da meia-hora programada), a "vontade comum para trabalhar num quadro europeu cada vez mais liberto de tensões, através da construção de uma agenda de governação económica sustentada por respostas credíveis para pôr termo à persistência dos efeitos da crise em vários Estados da União Europeia, cada vez mais necessárias para a preservação da estabilidade do euro e para o desejável aprofundamento do projeto europeu, que Portugal e Alemanha partilham". Ambos vão indicar que, com essa finalidade, manterão "um estreito contacto e um constante diálogo, com vista a garantir um trabalho frutífero comum nas instâncias da União, para enfrentar os grandes desafios com que hoje a Europa se confronta, num clima de confiança e abertura, à altura da excelência das relações de há muito existentes entre os dois países". A chanceler alemã, que o primeiro-ministro convidará a visitar Portugal "numa data futura, a definir através dos canais diplomáticos", expressará "a confiança que tem em que o novo executivo português prossiga as necessárias medidas de consolidação orçamental", deixando "uma palavra de sincera admiração pelos esforços levados a cabo pelo povo português nos últimos anos, que deverão conduzir a uma saída da crise num prazo razoável e à retoma de um processo de desenvolvimento no qual os investimentos alemães em Portugal continuarão a ter uma relevância muito importante". Pegando na palavra da chanceler, o primeiro-ministro português aproveitará o ensejo "para saudar as empresas alemãs que estão presentes na economia portuguesa, estimulando outros investidores alemães a apostarem no mercado português, no qual poderão encontrar excelentes oportunidades e um grande abertura". 

 

Alguma imprensa notará, contudo, que, após a conferência de imprensa, a chanceler não acompanhará o primeiro-ministro português até ao carro, no termo da longa passadeira vermelha onde o havia recebido no início do encontro, ocasião em que ambos, entre sorrisos, haviam apontado para o céu, referindo-se seguramente ao tempo que fazia em Berlim. 


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