quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Eleições na Noruega

Francisco Seixas da Costa

Há dois dias, a direita regressou ao poder na Noruega. Neste caso, o qualificativo "direita", não sofre contestação: o partido que indicará o novo chefe do governo chama-se "Høyre", o que, em norueguês, significa... "direita". Nos últimos 77 anos, só em 16 deles o Partido Trabalhista esteve afastado do governo.

 

Em setembro de 1981, quando eu vivia em Oslo, a direita também chegou ao governo, depois de dezenas de anos de domínio trabalhista. Um semanário português, "O Jornal", havia enviado à Noruega o jornalista Fernando Dacosta, para cobrir o acontecimento. Embora, de acordo com todas as sondagens, a mudança fosse já previsível, ela não deixava de ser, aos olhos internacionais, uma alteração com uma dimensão algo histórica. Para Portugal, colocava-se a questão da sustentabilidade das ajudas que os governos socialistas noruegueses nos vinham a dar, desde o 25 de abril, tema que preocupava a embaixada.

 

Dei todo o apoio que pude a Fernando Dacosta. Apresentei-lhe jornalistas e outras personalidades locais e obtive-lhe uma entrevista com o futuro primeiro-ministro, Kåre Willoch. Passámos a noite eleitoral nas instalações da NRK, a televisão local, até ao apuramento dos resultados definitivos.

 

No final do escrutínio, Fernando Dacosta pediu-me se eu podia levá-lo até ao centro da cidade, junto da sede do partido vencedor. Fiz-lhe a vontade, sorrindo para mim mesmo. Lá chegados, não se via vivalma. Não havia a menor manifestação, nem uma bandeira era agitada, nenhum automóvel buzinava. A derrocada de um governo no poder, desde há décadas, não era objeto da menor comemoração pública. À meia-noite, a sede do vitorioso "Høyre" já estava mesmo fechada. No dia seguinte, bem cedo, a Noruega regressaria ao trabalho.

 

Júlio Dantas, na "Ceia dos Cardeais", escrevia: "como é diferente o amor em Portugal". A política também.


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