domingo, 24 de julho de 2011

Noruega

Há mais de três décadas, fui viver para a Noruega. Era um dos países mais pacíficos do mundo. Recordo-me de ver o primeiro-ministro percorrer a pé a rua Karl Johan, no caminho para a estação de caminho de ferro e de, com frequência, me cruzar com ministros de bicicleta. Vivia-se em Oslo um sentimento de segurança quase plena.

O rei da época, Olav V, costumava deslocar-se de elétrico, como qualquer vulgar cidadão. Um dia, testemunhei uma cena deliciosa. Olav V, já nos seus 80 e tal anos, conduzia placidamente um carro pelas ruas da capital, apenas com uma pessoa a seu lado. A certo passo, parou junto a uma passadeira, para deixar passar uma senhora. A meio da travessia, a senhora reconheceu o soberano e fez-lhe uma imensa vénia. O rei retribuiu o gesto e, por uns instantes, ambos repetiram as vénias, numa coreografia de mútuo respeito, recheada de sorrisos.

Era assim a Noruega, desse final dos anos 70, do século passado.

A Noruega é, de há muito, um país dedicado à paz. Talvez não por acaso, o respetivo prémio Nobel, contrariamente a todos os outros, é decidido e atribuído em Oslo. Ao longo de muitos anos, os governos noruegueses empenharam-se, em diversas ocasiões e cenários geopolíticos, em operações de paz, sendo também protagonistas, de há muito, de importantes processos de ajuda ao desenvolvimento. Foi em Oslo, e com os noruegueses, que a causa palestiniana deu passos que só não foram decisivos porque Arafat, como alguns diziam, "nunca perdia uma oportunidade para perder uma oportunidade". A diplomacia norueguesa é uma diplomacia de bem.

Ontem, uma bomba explodiu, causando muitas vítimas, junto à sede do governo norueguês. Ainda não se sabem as causas desta barbaridade. Tudo muda, até a pacífica Noruega.

Deixo aqui um abraço solidário a todos os meus amigos noruegueses, cidadãos de um país com o qual Portugal tem, desde sempre, excelentes relações, reforçadas pelo generoso apoio dado pela Noruega ao processo de desenvolvimento português, no pós-25 de abril.

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