domingo, 24 de julho de 2011

Portugal, a terra dos tabus.

Henrique Raposo (www.expresso.pt)

A sociedade portuguesa cria demasiados tabus. As discussões nem sequer são feitas, porque é feio discutir certas coisas. Por exemplo, até ao advento da troika, era feio falar da lei laboral, era feio apontar para um facto: Portugal tem as leis laborais mais rígidas de toda a OCDE. E foi assim até ao fim, até à intervenção da troika. É só fazer um exercício de memória. Em Maio de 2010 (ou seja, ontem), "o mundo mudou", como se lembram. Nessa fase, Espanha e Portugal estavam lado a lado no risco de bancarrota. Entre Maio e Setembro, Madrid conteve a despesa (cortou 5% nos salários da função pública) e alterou leis fundamentais, a começar pelo código laboral. Durante esse período, Portugal não fez nada. A despesa não parou de aumentar e - repare-se -  o PS & mundo mediático em geral passaram o verão a atacar Passos Coelho. Porquê? Porque Passos resolveu dizer aqui em Portugal aquilo que era dito em todas as organizações externas (FMI, OCDE, UE) e no Banco de Portugal: Portugal precisava de flexibilizar as suas leis laborais. Durante o verão, em vez de uma discussão séria sobre o assunto, assistimos a um show de histerismo no parlamento e nos média. Ai, que não pode ser. Ai, os sacaninhas dos neoliberais com batata frita. Lembro-me de ver pivots a atacar Passos com uma violência rara em Portugal. Isto foi no verão passado. Passado um ano, as tais mexidas "neoliberais" nas leis laborais já foram impostas pelo exterior, e aceites pelo arco governativo, PS incluído. Agora pergunto: um debate interno, sério e adulto, entre portugueses é pedir muito? Era mesmo preciso esta mediação estrangeira? Expresso.

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