sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Fundação José Saramago 2009. Um ano de trabalho

 

 

Um ano mais a Fundação José Saramago apresenta um balanço público da sua actividade. Pendentes da finalização das obras na Casa dos Bicos, sua futura sede, que se pretende que seja um centro cívico e cultural no centro de Lisboa, a Fundação levou a cabo distintas iniciativas de carácter social e cultural em Portugal e participou ou iniciou campanhas internacionais que se ajustavam aos objectivos para que foi criada e existe: a Literatura como uma vivência, os Direitos Humanos como uma exigência, um meio ambiente limpo e protegido para podermos desenvolver-nos como seres vivos num mundo que precisa de ser respeitado para sobreviver e continuar-se.

O Caminho de Salomão
Seguindo o relato do livro "A viagem do elefante", que está baseado num feito real, a Fundação, de acordo com José Saramago, que não fixou no livro nenhum itinerário, decidiu estabelecer uma possível rota do elefante até chegar a Figueira de Castelo Rodrigo, junto à fronteira com Espanha. Assim, partindo de Lisboa, passando por Constância, a terra de Camões, por Castelo Novo, Belmonte, Sortelha, e Cidadelhe, a comitiva do elefante chegaria à sua última estação em Portugal. A beleza destas terras, o sugestivo da paisagem e o desconhecimento de alguns dos seus monumentos motivou que a Fundação apresentasse às distintas câmaras a possibilidade de establecer esta rota como destino de turismo cultural com a c aracterística singular de haver sido cenário de uma viagem histórica que ao longo dos séculos adquiriu marcas de lenda. Ver

Caim
Saramago diz que escreve para desasossegar e talvez Caim seja o exemplo mais claro: Saramago lê o livro fundacional de várias religiões e da civilização ocidental e descobre perspectivas sinistras. Que estando no livro, não quisemos ver, ou por onde passámos de raspão. O escritor que quer desasossegar confronta-nos com os crimes do Livro e pergunta-se que Deus é este que inicia a história da humanidade com uma proibição, uma expulsão, um crime. E que acaba entregando o seu próprio filho para que seja executado, depois de sofrer torturas, numa cruz. Ou quiçá a pregunta seja otra: que classe de seres somos, os humanos, que postos a inventar um Deus inventámos um ser supremo em crueldade para assim justificar os próprios crim es. Ver

O Caderno
Reflexões acerca de acontecimentos políticos de primeira ordem, ou de sucessos quotidianos, de recordações ou de promessas. Há força com o poder, crítica, a expressão de amor por outros escritores ou por certos livros: Um fluir de vida expressado no blog pessoal de José Saramago que esta revista da Fundação tem a honra de acolher.
O Caderno apareceu na primavera deste ano em Portugal, Brasil, Espanha, Catalunha e América Latina. Mais tarde foi publicado em Itália e nos próximos dias aparecerá em vários países europeus. Ver

A Viagem do Elefante
O ano 2009 arrancou com o elefante Salomão caminhando por Portugal e Brasil (Caminho e Companhia das Letras), Espanha e América (Alfaguara), e na Catalunha (Ediciones 62). Logo apareceu em Itália, na Turquia, em França, Grécia.... Uma viagem europeia, um percurso pela arbitrariedade do poder, pelos apetites que o elefante desordena e pelo caos que provoca. Salomão chega finalmente a Viena porque "Sempre chegamos aonde nos esperam". Salomão está a chegar. Ver

Cadeia de poesia para Mario Benedetti
A cabeça diz-nos que não há milagres, mas o coração insiste em crer que um milagre de vez em quando, para além de não alterar a ordem do mundo, viria bem como compensação pelas inevitáveis tristezas da vida. No fundo, queríamos acreditar que a leitura dos poemas de Benedetti, posta a correr em redor do mundo, faria retroceder a muerte que o ameaçava. Mario perdeu a batalha, nós, seus amigos, seus lectores, também. Restará a memória, restarão os livros, mas, neste momento, memória e livros quase nos parecem pouco. A dor e a tristeza não se aliviarão tão cedo. Estava Mario Benedetti e deixou de estar. Ver
José Saramago

Jorge de Sena: o regresso
A sessão de evocação da obra e da figura de Jorge de Sena, realizada no Teatro de S. Carlos em 10 de Julho de 2008, teve um título que a esta distância facilmente parecerá premonitório: Jorge de Sena - Um regresso. Para falar do autor de "Sinais de Fogo" reunimos ali, além de um representante da Fundação, para o caso o seu patrono, algumas das pessoas mais qualificadas do pensamento literário e crítico português: Eduardo Lourenço, Vítor Aguiar e Silva, Jorge Fazenda Lourenço e António Mega Ferreira, cujas participações contaram com a inteligente moderação do ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro. A sala do S. Carlos estava cheia até às torrinhas, o que mostra que a premonição, se o era, estava a ser partilhada por umas quantas centenas de pessoas. Houve leitura de poemas por Jorge Vaz de Carvalho e o pianista António Rosado interpretou composições sobre as quais Sena havia escrito. Quem esteve lá não esquecerá nunca. No final a Fundação ofereceu a cada um dos participantes um estojo com chaves: as que deveriam abrir as portas necessárias para que Jorge de Sena regressasse definitivamente ao seu país. Não, não foi premonição. Simplesmente, o que tem de ser, tem de ser e tem muita força. A força de todas aquelas pessoas, quase um milhar, unidas no mesmo pensamento: que volte Jorge de Sena, que volte já. Voltou, enfim. Não sei se ficámos mais ricos. Mais conscientes das nossas responsabilidades, sim. Poucas coisas agradariam tanto a Jorge de Sena. Ver
José Saramago

Azinhaga
A Fundação mantém uma sede em Azinhaga: um lugar para ler e ligar-se à internet no andar de baixo e uma pequena mostra de como era a vida dos camponeses pobres no andar de cima, com fotos da vida quotidiana na Azinhaga de José Saramago e um objecto precioso para o autor: a cama onde dormiam Jerónimo e Josefa, os avós a quem Saramago, no seu discurso diante da Academia Sueca, prestou homenagem contando, entre outras peripécias, que nas noites cruas de inverno, levavam os leitões mais débeis para, com o calor dos seus humanos corpos, manter com vida os animais.
Esta Azinhaga colocou, na praça onde se situa a sede da fundação, uma estátua que recorda o seu filho predilecto, José Saramago com um livro nas mãos, tal vez oferecendo-o. A estátua é uma iniciativa do grupo "Mais Saramago", dirigido por José Miguel Noras. O autor é o escultor Armando Ferreira. Ver

Aminetu Haidar
A Fundação juntou-se e, em algumas vezes, encabeçou iniciativas para a resolução do conflito internacional criado por Marrocos que, de forma arbitrária e ilegal, impedira Aminetu Haidar, uma reconhecida activista da causa do Sahara e dos Direitos Humanos, de regressar a El Aaiún. Aminetu Haidar, após trinta e dois dias de greve de fome no aeroporto de Lanzarote, conseguiu regressar a casa. Vários governos intervieram activamente. O jornal El País apresentava assim, na sua primeira página de sexta-feira, 18 de Dezembro, a notícia do regresso: "Pilar del Río, esposa del Premio Nobel José Saramago, le dio la buen noticia en la tarde de ayer a Aminetu y a su entorno tras recibir un llamada de José Luis Rodríguez Zapatero en la que le anunció que un avión iba a recoger a Haidar para trasladarla a la capital del Sahara. La actuación coordinada de Marruecos, España, Estados unidos y Francia permitió la solución al conflicto. Ver

Rodrigues Miguéis
Um autor fundamental da literatura portuguesa do século XX que deveria ter outra presença nas bibliotecas e nos corações dos leitores, porque é um património literário e emocional que não se pode delapidar. A Fundação organizou uma sessão de homenagem a Rodrigues Miguéis, reunindo alguns dos máximos especialistas na sua vida e obra. Onésimo Teotónio de Almeida, David Brookshaw, Duarte Barcelos, José Albino Pereira, Teresa Martins Marques e José Saramago destacaram os valores e a actualidade da narrativa de Miguéis, afirmando Saramago que os alunos portugueses deveriam ler "Escola do Paraíso" em lugar de "Memorial do Convento". As intervenções da sessão serão publicadas pela Fundação em breve. Será também publicada a correspondência entre Rodrigues Miguéis e José Saramago e a Fundação continua a trabalhar para a recuperação da obra do autor de alguns dos grandes títulos da Literatura portuguesa contemporânea. Ver

Escritaria
Em Penafiel, cidade situada a 345 Kms. a norte de Lisboa, realizou-se entre os dias 15 e 18 de Outubro a segunda edição do "Escritaria", uma iniciativa que trouxe a criação literária para as ruas, mobilizando os seus habitantes e quem visita a cidade por esses dias.
A Fundação José Saramago colaborou na organização deste encontro que promete continuar a fazer de Penafiel um local de discussão e de partilha em torno dos livros e dos seus autores. Ver

Bibliografia, teses e conferências na página da Fundação
A Fundação está a desenvolver o trabalho de recolha de artigos, conferências ou comunicações proferidas por José Saramago. Do mesmo modo, está já disponível uma recolha de teses sobre a obra de José Saramago.
Na página da Fundação avança o trabalho que permitirá disponibilizar online a bibliografia de José Saramago publicada em todo o mundo, com o recurso a todas as capas disponíveis e aos textos de apresentação de cada título na língua em que foi traduzido. Ver

A Maior Flor do Mundo - Ateliers de Promoção da Leitura
Depois de uma experiência iniciada em 2008, o ano de 2009 assistiu ao início do programa de itinerância do atelier "A Maior Flor do Mundo". De Janeiro a Dezembro, mais de 2000 alunos dos 1.º e 2.º ciclos do Ensino Básico assistiram a esta actividade que cumpre um dos objectivos inscritos na Declaração de Princípios da Fundação, o de promover a leitura. Esta actividade realizou-se em Escolas e Bibliotecas de todo o país, percorrendo mais de 6 000 Kilómetros, numa actividade suportada integralmente pela Fundação. Ver

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