segunda-feira, 29 de julho de 2013

Os estagiários

 

Francisco Seixas da Costa

 

Sou um defensor dos estágios. Acho muito importante dar oportunidades de aquisição de conhecimentos e hábitos de trabalho a pessoas que encerraram o seu ciclo académico e que, por dificulades de absorção do mercado de trabalho, não conseguem um vínculo profissional estável. Em quase todas as estruturas que dirigi estive aberto ao acolhimento de estagiários, não obstante algum peso circunstancial que isso induzia nas tarefas quotidianas de colegas. Os estagiários representam uma contribuição muito significativa para o dia-a-dia do Centro Norte-Sul, que hoje dirijo, ajudando-nos a levar a cabo muitas das nossas tarefas. Lamento não podermos fazer acompanhar esses estágios com um pequeno estímulo financeiro, porque nunca me reconciliei com a ideia dos estágios totalmente gratuitos.

 

Vem isto a propósito do governo. Por mais que me pareça justo dar oportunidades aos "novos", acho abusivo, e uma objetiva falta de respeito por uma administração pública que se fez "a pulso", estar a colocar em cargos governamentais, com tutela sobre essa mesma administração, figuras sem o menor currículo técnico para as áreas que vão dirigir, ungidos apenas pela confiança política ganha num gabinete, num qualquer lugar de nomeação/eleição partidária ou num banco ou numa consultora amigalhaça. A situação é ainda mais absurda se pensarmos que, de há uns tempos para cá, se sujeita a concurso público rigoroso a seleção de técnicos para ocuparem certas funções de chefia, para, logo de seguida, as colocarem sob a "orientação" de um meninote qualquer, só porque tem um MBA tirado na estranja ou veio do lugar certo. A maioria das vezes nem sequer têm a menor legitimidade eleitoral ou, nos casos em que ela existe, é apenas uma obscura passagem pelo parlamento ou por uma autarquia, depois "legitimada" por presenças palavrosas em debates "prós-e-contras" nas televisões, na blogosfera ou nas colunas com retratinho no canto, onde demonstraram a sua lealdade às lideranças de serviço. Vale a pena olhar para alguns currículos e avaliar aquilo que neles resultou de meras "escolhas" político-ideológicas e compará-los com os de poutros, de pessoas oriundas do "mundo real", de quem "fez pela vida" e tem uma história profissional a apresentar.

 

Mas o que é que isto tem a ver com os estágios? Tudo! Olhando para alguns secretários de Estado - e este governo apenas abusa numa prática que não é de hoje - estamos perante verdadeiros estágios pagos, à custa do erário público, ainda por cima atribuindo responsabilidades hierárquicas, coisa que a mim nunca me passou pela cabeça dar aos meus funcionários. Mas um dia vou pensar nisso...


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