JPP
FORÇA E FRAQUEZA Passos Coelho sai da crise mais forte (no governo e no establishment que conta), Portas sai da crise muito fragilizado, de rastos. Aparentemente o mais fraco vai ter um incremento significativo de poderes, em detrimento do mais forte, e é por essa contradição que vai continuar a crise. Admito que o instinto de sobrevivência torne ambos muito cautelosos, ou seja, capazes de engolir tudo e fazer um ar hirto, mas isso não chega. Embora esta crise tenha sido muito mais grave, – bastava a saída de Gaspar para lhe dar outro carácter, – ela é um remake da anterior que levou a uma cena surrealista de reuniões entre os dois partidos num hotel e a comunicados conjuntos. Ah! E a uma comissão destinada a coordenar a coligação, que, nunca existiu nem funcionou. Mas a linguagem, as juras, as promessas, a propaganda de como "saímos disto mais fortes", nada disto é novo. Já se ouviu exactamente o mesmo que se está a ouvir agora. No entanto, esta crise foi muito pior: o medo pânico de eleições penetrou no âmago dos dois partidos, e o desequilíbrio entre Passos e Portas é agora abissal. Se a linguagem gestual diz muito, é só ver Portas a fazer de conta que tira notas, quando já tem o discurso todo escrito, a limpar a fronte, a olhar para baixo, reduzido a uma sombra do que foi e à mãe de todas as sombras daquilo que queria ser. Só que as coisas são o que são e Portas é o elo fragilíssimo do poder, cheio de títulos e responsabilidades, que tentará usar em primeiro lugar para se salvar e escapar da imagem "irrevogável". Só que cada sucesso de Portas, e Portas vai tentar desesperadamente ter algum a curto prazo, seja real, seja virtual, será muito perturbador para o resto do governo, e cada fracasso uma colecção de sorrisos, e afiar de fracas. Por isso, passadas as juras de fidelidade e afirmação de força da coligação, a sua doença interior, a praga que a rói por dentro, vai ser pior. Portas pode ter ido a Vice-Primeiro Ministro, mas nem Secretário de Estado é. Se quiser ser mais do que isso, todos o vão impedir. E ele não pode fazer nada. |
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