Francisco Seixas da Costa
Foi em 2011. Na lista da nova equipa governamental para o MNE surgia o nome de uma senhora, de seu nome Vânia, com a categoria de subsecretária de Estado. A casa, sempre à cata da novidade e da raridade de género, ficou curiosa. O título do cargo, muito comum no Estado Novo (que teve muito poucos secretários de Estado e bastantes subsecretários), lembrava, por ali, aquele que fora usado por Ruy Patrício, antes de ser nomeado último ministro "dos Estrangeiros" da ditadura. Passada a Revolução, a designação fora utilizada no MNE (se a memória me não trai) apenas por três vezes, sempre para um não confessado controlo político da administração da casa, por ministros desconfiados ou preguiçosos. Desta vez, com Vânia, nem sequer era esse o caso. Mas, afinal, quem era Vânia? Que funções iria ter? Como não havia delegação de competências para ler, a interrogação prosseguiu por alguns dias. Até que um colega com responsabilidades institucionais, cumpridor dos formalismos, tentou pedir uma audiência a Vânia para lhe apresentar os seus respeitos. Logo percebeu que a senhora, saída do anonimato centrista da edilidade portuense, jamais aportaria às Necessidades, ficando "na Gomes Teixeira", sede da presidência do Conselho de ministros, a coadjuvar o também ministro de Estado. Era uma espécie de deslocalização e, por isso, uma verdadeira "première" no MNE. Um dia, daqui a anos, a historiografia ficará confundida, através da leitura dos diplomas da época, pelo facto de ter existido uma Vânia no quadro oficial da política externa portuguesa. Dela não surgirá um simples despacho, atestando a designação de um chanceler para um consulado, ou uma foto sorridente junto aos candelabros de uma embaixada de charme, ou tão só a assinatura, com o ar compenetrado e a saia-e-casaco de rigor, de um qualquer convénio sobre um tema grave. Vânia vai ser, para os futuros coscuvilheiros da história diplomática, o mistério dos Negócios Estrangeiros. |
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