terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Eliseu


Na passada semana, acompanhando o primeiro-ministro português, passei uma hora no palácio do Eliseu. Foi uma - provavelmente a última - das bastantes visitas que, durante os últimos 17 anos, fiz àquele magnífico "hôtel particulier", sempre impecavelmente conservado. O Eliseu reflete o esplendor da República, curiosamente num "décor" que recorda tempos muito distantes dela. Para as memórias que talvez nunca escreva, durante conversas que foram dos acontecimentos no Mali ao próximo orçamento da UE, tomei notas sobre pormenores da sala e do mobiliário, complementadas por algumas liturgias do encontro.

Ontem, no "Le Figaro", o correspondente do "Die Welt" em Paris, Sasha Lehnartz, escrevia: "de cada vez que tenho o privilégio de aceitar um encontro do palácio do Eliseu, tenho a impressão de ser recebido numa audiência pelo Papa". O jornalista contrastava a sobriedade espartana das residências oficiais alemãs com o ambiente palaciano, "mistura de pompa pós-feudal e de grandeza republicana". Mas, curiosamente, não elogiava o seu modelo.

O poder também se faz de símbolos. Sem uma certa coreogradia, sem alguma pompa, os cidadãos tendem a olhar para os titulares da autoridade com um sentimento de banalidade, embora quiçá de simpatia. Mas a distância que o poder cria parece ser essencial para essa mística que sustenta as hierarquias de que a política - toda a política - é feita. A questão estará sempre na sabedoria necessária para encontrar um tom exato, suscetível de sublinhar a importância da função exercida sem apoucar os cidadãos, os quais, no fundo, são a verdadeira razão de ser dos sistemas políticos.

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