sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Clara Ferreira Alves


Não conheço Clara Ferreira Alves. Julgo que integrámos juntos uma comitiva presidencial, há já muitos anos, mas não me recordo de com ela ter trocado mais do que duas palavras. Às vezes, nos programas televisivos onde participa, irrita-me um tom algo chocarreiro que utiliza e uma deriva "tutóloga" - isto é, de quem fala de tudo com ar de cátedra -, que se confunde com um certo pretensiosismo.

Dito isto, feita esta "distanciação", quero dizer que a leio com grande regularidade e com grande prazer. Acho a escrita de Clara Ferreira Alves de uma vivacidade rara, com uma utilização medida e elegante da adjetivação, de onde emanam um lastro cultural sólido e a procura de uma estética de sólido bom gosto. Posso discordar dela bastante - e isso já aconteceu mais no passado - mas não deixo de lhe reconhecer a coragem de uma cronista que, não sendo independente, tem a coragem de deixar transparecer opiniões fortes, contrastantes, não fugindo à polémica. Volto ao princípio: o que nela mais me agrada é a escrita "em si", um estilo dinâmico, com ritmo, aquilo a que eu chamo - valha isso o que valer - um excelente português. Faz parte de quantos escrevem de uma forma que eu invejo.

Deparei-me agora com um novo livro de Clara Ferreira Alves, "Estado de Guerra". Estou a (re)lê-la com imenso agrado e proveito. E, como amostra, deixo esta sua definição de algum jornalismo: "O jornalismo, aterrorizado com a ideia de que a cultura é pesada e de que o mundo tem de ser leve, nivelou a inteligência e a memória pelo mais baixo denominador comum, na esteira das televisões generalistas". Reconheçamos que, num mundo de corporativismos ferozes, é preciso alguma coragem para dizer verdades simples. "Como punhos", para utilizar uma expressão que o meu pai costumava utilizar muito.

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