Voltámos aos dias obsessivos da política. Não se consegue falar de outra coisa. Telefonar para Portugal tem como consequência, cinco segundos depois de iniciada a chamada, ouvir comentários sobre a situação que se vive no país. Encontrar alguém que de lá chega é sinónimo garantido de, inevitavelmente, iniciar um diálogo sobre a crise e as crises que nela se estão a gerar. Os nossos funcionários, crentes em que "bebemos do fino", perguntam-nos o que vai acontecer. Os estrangeiros que cruzamos, dependendo da sua sensibilidade, colocam-nos questões brutais ou optam por um registo piedoso.
Se os atores da peça andam eles próprios à procura de um argumento, não serão os espetadores quem pode adivinhar o sentido do que a história vai acabar por escrever. Nestes tempos, se os nossos medos tornarem isso possível, é muito importante que tentemos manter a cabeça fria e perceber que, se acaso a perdermos, isso em nada nos ajudará. Nos dias que correm, todos temos legítimas dúvidas, todos alimentamos angústias ainda sem respostas. No que me toca, tenho uma firme vontade e uma convicção: quero ver tudo resolvido na mais estrita observância das regras da democracia, que deu muito trabalho a construir, e tenho por seguro que, se isto correr mal, correrá mal para todos e não só para alguns.
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