Agora, de um dia para o outro, passou a ser "urgente" debater a "reforma do Estado".
Durante nove meses, o "guião" foi anunciado e reanunciado, com embaraçadas respostas dilatórias, apenas quando alguém se lembrava de perguntar por ele. A certo ponto, ficou bem patente que havia, no seio da maioria, como que uma estratégia para tornar o líder do segundo partido da coligação o responsável pessoal pelo recorrente atraso no exercício. Com algum gozo associado. Um dia, ultrapassado já o prazo do ridículo, o "guião" lá saiu. E foi "aquilo" que se viu. E, num instante, um texto que pôde esperar meses para ser divulgado, converteu-se numa proposta "incontornável" e, pasme-se!, "urgente". Como se aquele monte de obviedades, com três ou quatro receitas de "thatcherismo" tardio, passasse, por milagre, a ser o eixo do nosso futuro, devendo o país ser convocado e mobilizado para a sua discussão. E, claro!, sendo réu de um crime de lesa-pátria quem não acorresse, pressuroso, a esse debate.
Para o principal partido do governo, cujo nível de "entusiasmo" com o surgimento do "guião" se tornou bem evidente, a polémica passou, de repente, a ser um excelente meio de diversão do difícil debate orçamental. Para o autor político do "guião", convirá, naturalmente, explorar, tanto quanto possível, a "obra feita", para o que já conta com a dedicada colaboração dos "parceiros sociais", sempre à cata de tempo de antena. O que ainda não foi suficientemente sublinhado é a circunstância de um grupo selecionado de socialistas ter logo emergido a terreiro, a relevar a "importância" das "propostas" do "guião", dando interesseiramente a mão à figura do vice-primeiro ministro, com quem contam para aventuras governativas futuras.
A vida política portuguesa está a ficar tão transparente... |
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