A vantagem em ser apenas observador dos negócios é ter alguma memória. É preciso recuar mais de dez anos para lembrar as fortunas e as trapalhadas que se fizeram com a Galp. Primeiro surgiu em 1999 um grupo denominado Petrocontrol, onde estavam algumas das principais fortunas de Portugal e que ficou com 33,34% da Galp. No ano seguinte, e com uma enorme mais-valia, a qual ficou isenta de pagamento de qualquer imposto, venderam essa posição à Eni (22,34%) e à EDP (11%). Os italianos tinham já comprado ao Estado português 11%. Com Pina Moura assinaram um contrato que pressuponha que ou a Galp entrava em Bolsa até ao final de 2002 ou a Eni podia comprar mais 24%, ficando numa ou noutra opção dona da petrolífera portuguesa. Ou seja, Pina Moura vendeu a Galp aos italianos da Eni. Depois mudou o Governo e o novo achou que podia rasgar este acordo. Arranjaram pelo meio um salvador da pátria, Américo Amorim que juntamente com capital angolano, de Isabel dos Santos e Sonangol, reforçou até aos 33,34% ficando com a mesma posição da Eni na Galp. Os italianos foram obrigados a aceitar estas condições e assinaram um novo acordo de equilíbrio de forças. Américo Amorim coloca Ferreira de Oliveira à frente da Galp e tudo parecia tranquilo... Parecia...
Por fim, a Sonangol e Isabel dos Santos chateiam-se com Amorim e Ferreira de Oliveira, e a Eni vendo que não pode ter o controlo aparece vendedora. Ferreira de Oliveira para garantir a sua recondução à frente da Galp tira um coelho da cartola, a Petrobras. Só que este coelho, não sendo o do país das maravilhas, aterrou em Portugal para descobrir que afinal podia ter sido o local ideal para inspirar Lewis Carroll. Meses de negociações que terminam com a Petrobras, uma empresa pública, a bater com a porta pela insistente interferência do Governo português e do Governo angolano neste negócio. Tal como Alice no julgamento, para a Petrobras nada disto faz sentido. E as personagens desta triste história faziam passar por normais a lagarta azul, o chapeleiro louco e até a rainha de copas. No final todos querem o mesmo, dominar a Galp. E por mais surpreendente que pareça no final ainda vão dar razão a Pina Moura, pois sempre seria melhor vender a Galp aos italianos do que a angolanos ou chineses. Este triste espetáculo mostra como o Governo está refém das alianças que foi fazendo. Seja com capital angolano ou com chinês, há sempre favores a pagar quando corremos para eles a pedir ajuda.
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