Uma sombra tenebrosa perpassou pelo Congresso do PSD: a sombra de José Sócrates. No discurso, no depoimento, na declaração, na entrevista, o nome do ex-primeiro-ministro foi presença constante. Para ser desancado, bem entendido. Até Passos Coelho não se conteve. Ele, que prometera, solene e sólido, nunca se referir, nem em breve alusão, a Sócrates e seu Governo, indica-os, a um e a outro, como causas de todos os nossos males. Luís Montenegro, chefe da bancada parlamentar daquele partido, tentou gracejar com as seguintes afirmações: "O PS tem um Governo clandestino, em Paris" ou "O PS tem uma direcção bicéfala: Seguro, cá; e Sócrates, lá." A graça era tão desajeitada que ninguém sequer sorriu.
Parece ser uma nova estratégia dos sociais-democratas, destinada a fazer esquecer os nossos sufocantes problemas, e que se transformou numa obsessão perturbadora. Apenas reavivaram a lembrança de um homem, como tema, e a transferiram para a categoria de problema. Ao que consta, Sócrates pende, neste momento, para o estudo dos estóicos. Foi visto no Café de Flore, a folhear Cartas a Lucílio, de Séneca.
De resto, o congresso foi uma irrelevância. E nem a promoção de Moreira da Silva, que me dizem ser rapaz jeitoso, em detrimento de Miguel Relvas, colocado no papel de falador sem perigo, animou a massa parda do conclave. Alberto João Jardim fez o que dele se esperava: elogiou, excessivo e congestionado, o presidente Passos, porque pressente ter de lhe pedir auxílio. Também não se coibiu de aplicar a José Sócrates umas sarrafadas. Os congressistas, de pé e muito comovidos, aplaudiram-no sem reservas.
Simpático e gracioso, tão ao gosto do que gosta, Marcelo passeou a popularidade pela sala, proferiu umas frases inócuas, e escapuliu-se. Santana, que posa de leão jamais domesticado, nem humilde nem errante, foi à gostosa reunião para ser visto. Disse que não dizia e acabou por dizer o que lhe interessava. Fotografaram-no e filmaram-no em jubilosa conversa com Miguel Relvas. Nada de mal. Nada de importante. Santana é a pop-star do PSD, e anda sempre por aí.
Tudo a contento de Pedro Passos Coelho, a rodear-se de amigos que não se exaltam nem contestam, e a preparar-se para uns pequenos outros ajustes de contas. O pobre Pacheco (servindo-me de uma expressão cara a Eduardo Prado Coelho) que se cuide. As diatribes um pouco oblíquas, e notoriamente ressabiadas, com as quais pretende atingir Passos e a sua governação, vão ter, certamente, resposta adequada. Já foi corrido do Parlamento. Que mais lhe pode acontecer? Muita coisa, creio. Nem o discurso final do líder, pressionado para falar dos desempregados, possuiu a consistência das convicções. Referiu-se-lhes com uma espécie de mensagem caritativa.
Haja Deus e haja Freud!
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