Para quem não saiba, a expressão RIA significava em Portugal, ao tempo das lutas académicas dos anos 60 e 70, "Reunião Inter-Associações", isto é, encontros de dirigentes estudantis de várias faculdades, normalmente para discussão das "novas formas de luta", nos tempos áureos em que os universitários se uniam em torno de reivindicações que iam bastante para além das propinas e das praxes.
Lembrei-me do ambiente das RIA ao ler alguns comentários deixados no post "Ainda uma gravata", que aconselho que consultem. Aí aparecem citadas figuras que vieram a ser conhecidas em diversos sectores da vida portuguesa, para além de outras que optaram pela sábia serenidade de uma existência sem paragonas.
Neste contexto de luta académica, há um nome que não resisto a trazer à memória, uma figura de dirigente associativo que marcou muito a minha geração e que, infelizmente, já desapareceu: João Crisóstomo. Era uma voz forte e tonitruante que saía daquela bigodaça farfalhuda, sempre marcada por expressões que, as mais das vezes, se colocavam à margem da linguagem estereotipada que caracterizava os nossos discursos associativos. Ouvir o João era uma delícia!
A primeira vez que o conheci, e perante um comentário que terei feito, talvez sugerindo uma qualquer acção, arrumou-me com um definitivo: "Deixa-te disso! Essa questão já foi discutida no 4º seminário!". A timidez de novato impediu-me de perguntar o que era o "4º seminário" e, ao que recordo, andei uns dias, por caminhos ínvios e que não amesquinhassem mais a minha ignorância, a tentar perceber de que se tratava. Lá vim, finalmente, a saber que se estava a referir ao 4º Seminário de Estudos Associativos, iniciativa cujas conclusões obtive e que, deduzo, terá sido antecedida de três outros "seminários" cujo rasto, confesso, nunca encontrei. Pode ser que, agora, algum comentador me possa esclarecer.
O João Crisóstomo era uma verdadeira enciclopédia associativa. Falava de pormenores das lutas académicas anteriores com imensa certeza e conhecimento, citando, com inesperada precisão, factos muito antigos, a que manifestamente nunca podia ter assistido, dada a sua idade. Por essa razão, uma madrugada, numa sala de Económicas, no Quelhas, no auge de uma RIA, que viria a acabar, horas mais tarde, connosco a fugir pelas janelas e a saltar os muros, devido a um cerco da polícia, alguém lhe lançou uma questão provocatória: "Ó João, esclarece lá uma coisa: tu afinal estiveste ou não na greve de 1907, antes da implantação da República?". O João Crisóstomo, já de si sempre propenso a reacções fortes, "passou-se"! E iam voando dossiês!
Lembrei-me do ambiente das RIA ao ler alguns comentários deixados no post "Ainda uma gravata", que aconselho que consultem. Aí aparecem citadas figuras que vieram a ser conhecidas em diversos sectores da vida portuguesa, para além de outras que optaram pela sábia serenidade de uma existência sem paragonas.
Neste contexto de luta académica, há um nome que não resisto a trazer à memória, uma figura de dirigente associativo que marcou muito a minha geração e que, infelizmente, já desapareceu: João Crisóstomo. Era uma voz forte e tonitruante que saía daquela bigodaça farfalhuda, sempre marcada por expressões que, as mais das vezes, se colocavam à margem da linguagem estereotipada que caracterizava os nossos discursos associativos. Ouvir o João era uma delícia!
A primeira vez que o conheci, e perante um comentário que terei feito, talvez sugerindo uma qualquer acção, arrumou-me com um definitivo: "Deixa-te disso! Essa questão já foi discutida no 4º seminário!". A timidez de novato impediu-me de perguntar o que era o "4º seminário" e, ao que recordo, andei uns dias, por caminhos ínvios e que não amesquinhassem mais a minha ignorância, a tentar perceber de que se tratava. Lá vim, finalmente, a saber que se estava a referir ao 4º Seminário de Estudos Associativos, iniciativa cujas conclusões obtive e que, deduzo, terá sido antecedida de três outros "seminários" cujo rasto, confesso, nunca encontrei. Pode ser que, agora, algum comentador me possa esclarecer.
O João Crisóstomo era uma verdadeira enciclopédia associativa. Falava de pormenores das lutas académicas anteriores com imensa certeza e conhecimento, citando, com inesperada precisão, factos muito antigos, a que manifestamente nunca podia ter assistido, dada a sua idade. Por essa razão, uma madrugada, numa sala de Económicas, no Quelhas, no auge de uma RIA, que viria a acabar, horas mais tarde, connosco a fugir pelas janelas e a saltar os muros, devido a um cerco da polícia, alguém lhe lançou uma questão provocatória: "Ó João, esclarece lá uma coisa: tu afinal estiveste ou não na greve de 1907, antes da implantação da República?". O João Crisóstomo, já de si sempre propenso a reacções fortes, "passou-se"! E iam voando dossiês!
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