A Embaixada de Portugal junto da Santa Sé - "posto santo e santo posto", como ironicamente se diz, por vezes, na nossa carreira - ocupa em Roma um belíssimo palácio, com um deslumbrante e imenso jardim.
Havia - embora eu desconheça se ainda há - uma velha tradição naquele posto diplomático: sempre que um cardeal vinha jantar à Embaixada, dois empregados, fardados à antiga, deslocavam-se até ao portão de entrada, munidos de duas tochas ardentes, e acompanhavam os "príncipes da Igreja" até à escadaria do edifício.
A história que me chegou, já com bastantes anos, diz respeito a um desses jantares, a que dois cardeais iriam estar presentes. Presumo que tal evento constitua sempre um momento especial, pelo que digno do maior cuidado protocolar. Porém, nessa noite, algo terá corrido menos bem e os arranjos coreográficos de recepção, para acolher os cardinalícios comensais pelos fâmulos de serviço, acabaram por não se conjugar de forma harmoniosa. Por uma qualquer razão, quiçá devida a uma informação errada recebida ao portão, os cardeais, logo que entrados no jardim, e porque não tinham os tocheiros à sua espera, decidiram meter-se a caminho, em direcção à residência. Fizeram-no, porém, por um percurso ínvio que os fez entrar na casa por uma porta lateral e aceder a uma sala vazia, onde serena e discretamente se acomodaram, esperando que alguém os viesse receber.
Alertados pela portaria, embora com atraso, da chegada dos cardeais, os fâmulos de libré para aí haviam corrido, com as chamas das suas tochas ao vento, quais portadores de facho olímpico. Porém, lá chegados, foram informados que as reverendíssimas visitas já teriam dado entrada no jardim. O pânico criado pela "gaffe" acelerou-lhes então o passo e, conta-se, o espectáculo seguinte foi digno de opereta: sob o olhar ansioso dos embaixadores e convidados, o breu do grande jardim da Embaixada passou a ser cruzado, durante vários minutos, por duas nervosas e lépidas tochas ardentes, que corriam atarantadas de um lado para o outro, espiando todos os escaninhos possíveis, na desesperada e cada vez mais angustiada busca das figuras cardinalícias perdidas.
O resto da história não me chegou, mas podemos imaginar que, descobertos finalmente por alguém na sala onde esperavam, com a infinda paciência que a sua instituição lhes incutiu, aos nossos cardeais tenha entretanto chegado um reconfortante Porto ou, pelo menos, um vero limoncello...
Havia - embora eu desconheça se ainda há - uma velha tradição naquele posto diplomático: sempre que um cardeal vinha jantar à Embaixada, dois empregados, fardados à antiga, deslocavam-se até ao portão de entrada, munidos de duas tochas ardentes, e acompanhavam os "príncipes da Igreja" até à escadaria do edifício.
A história que me chegou, já com bastantes anos, diz respeito a um desses jantares, a que dois cardeais iriam estar presentes. Presumo que tal evento constitua sempre um momento especial, pelo que digno do maior cuidado protocolar. Porém, nessa noite, algo terá corrido menos bem e os arranjos coreográficos de recepção, para acolher os cardinalícios comensais pelos fâmulos de serviço, acabaram por não se conjugar de forma harmoniosa. Por uma qualquer razão, quiçá devida a uma informação errada recebida ao portão, os cardeais, logo que entrados no jardim, e porque não tinham os tocheiros à sua espera, decidiram meter-se a caminho, em direcção à residência. Fizeram-no, porém, por um percurso ínvio que os fez entrar na casa por uma porta lateral e aceder a uma sala vazia, onde serena e discretamente se acomodaram, esperando que alguém os viesse receber.
Alertados pela portaria, embora com atraso, da chegada dos cardeais, os fâmulos de libré para aí haviam corrido, com as chamas das suas tochas ao vento, quais portadores de facho olímpico. Porém, lá chegados, foram informados que as reverendíssimas visitas já teriam dado entrada no jardim. O pânico criado pela "gaffe" acelerou-lhes então o passo e, conta-se, o espectáculo seguinte foi digno de opereta: sob o olhar ansioso dos embaixadores e convidados, o breu do grande jardim da Embaixada passou a ser cruzado, durante vários minutos, por duas nervosas e lépidas tochas ardentes, que corriam atarantadas de um lado para o outro, espiando todos os escaninhos possíveis, na desesperada e cada vez mais angustiada busca das figuras cardinalícias perdidas.
O resto da história não me chegou, mas podemos imaginar que, descobertos finalmente por alguém na sala onde esperavam, com a infinda paciência que a sua instituição lhes incutiu, aos nossos cardeais tenha entretanto chegado um reconfortante Porto ou, pelo menos, um vero limoncello...
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