quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Um ninho de cucos (e é onde nós vivemos...)

Há momentos em que a política se transforma num exercício de loucura, irresponsabilidade e estupidez. Nessas alturas há poucas coisas a fazer: rir, chorar, emigrar ou aguardar que alguém reponha a normalidade. No caso que nos entreteve esta semana, só há uma pessoa que pode fazer regressar essa normalidade: o Presidente da República. Estranhamente ninguém o viu ou ouviu esta semana.

O sillygate começa por parecer isso mesmo: um amontoado de parvoíces, típicas da época mais quente do ano. Mas, quando se olha com atenção, o que vemos é assustador: basicamente, alguém no Palácio de Belém acha que o Governo anda a vigiar os passos dos assessores do Presidente. Admitindo que a fonte em causa não está com gripe A e 40 graus de febre a história tem que ser esclarecida. E só pode ser esclarecida pela Presidência.

A fonte em causa inventou o mais ridículo dos 'indícios' para justificar as suspeitas. Um dirigente do PS (José Junqueiro, de Viseu!) tinha dito ao "Público" que Belém devia esclarecer se tinha assessores a colaborar na elaboração do programa eleitoral do PSD. Com base nisto, e apenas nisto, a fonte de Belém acha que está a ser vigiada!

Apenas para arrumar esta questão, convém explicar que é absolutamente normal que assessores do Presidente tenham vida partidária. Isso aconteceu com todos os presidentes da República. No grupo de assessores de Cavaco Silva há, naturalmente, pessoas que são do PSD e algumas muito próximas da actual líder. Estranho seria se não a ajudassem politicamente. Há, aliás, um assessor de Cavaco, o ex-ministro da Agricultura, Armando Sevinate Pinto, que colabora publicamente com o CDS-PP.

Delírios à parte, a história só fez o seu caminho porque o Governo e o PS deram vários pretextos, dois dos quais graves: o estatuto dos Açores e a não nomeação de João Lobo Antunes para o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida. O primeiro caso foi uma afronta infantil e desnecessária; o segundo conseguiu a proeza de transformar João Lobo Antunes numa bandeira do PSD, partido a que nunca pertenceu, fazendo esquecer que antes de ser mandatário nacional de Cavaco Silva, o médico tinha sido mandatário da reeleição de Jorge Sampaio! E já ninguém se lembra que foi Lobo Antunes quem empurrou Dias Loureiro para fora do Conselho de Estado, perante o silêncio e o incómodo do Presidente e da direcção do PSD. Enfim, o PS dá pretextos tontos, alguém na Presidência enlouquece e ninguém tem juízo. Somos um enorme manicómio.

Ricardo Costa Expresso.pt

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