Domingos Amaral
Muita gente tem a ideia que só a CGTP e os sindicatos de esquerda é que protestam. No entanto, não é bem assim. Qualquer ramo de actividade, quando é atingido nos seus interesses, protesta de imediato. Não são só os funcionários públicos a protestar. Também as associações de reformados, recém formadas, protestam muito. E os bancos? Nas últimas semanas, protestaram pelo menos 2 vezes, e bem. A primeira foi contra uns certificados que o Governo vai lançar, e que para os bancos são concorrência "desleal". E a segunda vez foi contra a subida do imposto extraordinário sobre a banca, que logo levantou um coro de protestos! E a EDP, não protesta, contra os cortes nos subsídios? Sim, protesta. Até os chineses que a compraram logo vieram protestar, enviando uma cartinha, e logo o defensor dos chineses, Eduardo Catroga, veio dizer que eles tinham razão. E a Galp, não a ouviram também a protestar? E o ACP, não levantou a voz, dizendo que mais impostos sobre os carros a gasóleo era um erro? E a associação dos restaurantes, não protesta contra a manutenção da taxa máxima do IVA? Sim, protesta e até ameaça com manifs. Como se vê, não são só os do costume, os sindicatos da função pública, ou os trabalhadores das empresas públicas. Esses vão fazer o que fazem sempre. Mas, os outros também protestam e por vezes têm formas muito eficazes de levar a água ao seu moínho. E quem achar que Portugal é irreformável só por causa disto, não percebe nem gosta das democracias modernas. Nessas, todos se podem defender, e protestar é uma forma de defesa. Seja os interessados "de direita", ou sejam os interessados "de esquerda", todos protestam e ainda bem, é sinal de que estão vivos. Só os mortos não protestam. Qualquer ser vivo reage mal ao sacrifício e à dor, mesmo que seja apenas no seu bolso. Isto não quer dizer que certas medidas não sejam necessárias, mas pensar que todos devíamos ser carneirinhos mansos e submissos, e aceitar tudo com um sorriso nos lábios, é um instinto totalitário assustador. Antes uma sociedade onde todos protestam e é difícil mudar, do que uma sociedade de mortos-vivos, subjugados por um poder totalitário. Protestar é sinal de vida, e de democracia. E nisso não somos muito diferentes dos outros. Não há nenhuma democracia ocidental onde não haja protestos quando alguém se sente prejudicado. Contudo, há muitos que preferiam uma sociedade diferente, mansa e amorfa, que nunca protestasse. É compreensível. Debaixo de muitas pessoas que odeiam os protestos, há um ditadorzinho doméstico, um fanático do come e cala. É o que há mais por aí, os ditadorzecos de sofá, que resolviam tudo em duas penadas... |
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