Banco de Portugal deixou-se enganar, mas foi vítima do modelo de supervisão vigente à época, defende Teixeira dos Santos.
Não nacionalizar o BPN teria implicado custos para o Estado português "equivalentes aos que tem vindo a suportar desde então", com a agravante de não permitir que o Governo tivesse real poder de decisão sobre os destinos e a gestão do banco. É esta a convicção que Teixeira dos Santos mantém hoje, quando se cumprem cinco anos sobre a decisão de nacionalizar a instituição. Quanto à actuação do Banco de Portugal (BdP), o ex-ministro sustenta que "foi enganado e deixou-se enganar", que poderia e deveria ter tido uma "acção mais interventiva", mas que foi vítima de um modelo de supervisão que reinava na altura e que era "demasiado confiante" na "reputação e na palavra dos agentes financeiros".
Para o ex-ministro das Finanças, a necessidade de nacionalizar o banco "tornou-se clara na semana anterior à decisão". Teixeira dos Santos lembra que o Governo estava a acompanhar a situação "desde Junho de 2008, altura em que o banco foi sujeito a um ‘downgrade' do seu rating e passou ou a ter grandes dificuldades de financiamento" e que estava então "na expectativa dos resultados dos esforços que a nova administração liderada pelo dr. Miguel Cadilhe".
Depois, "os acontecimentos precipitaram-se, principalmente após a falência do Lehman Brothers". De um saldo superior a 300 milhões em Agosto, o banco passou para uma insuficiência de mais de 800 milhões em Outubro.
O cenário alternativo à nacionalização chegou através de Cadilhe. "Propôs um plano que implicava que o Estado injectasse, a título de capital, mas de acções preferenciais sem voto, 600 milhões de euros. Isto para cobrir uma insuficiência contabilizada em 700 milhões". Essa proposta, diz, significava "entrar no capital, sem voz na administração e em condições que não podiam ser aceites, até porque não iam de encontro a alguns requisitos e exigências do quadro comunitário".
E o que veio depois, sustenta o ex-ministro, apenas mostra que esta foi a melhor opção. Após a nacionalização, lembra, "o Deutsche Bank e a Delloite, que fizeram uma avaliação da situação do banco, constataram - informação que nos foi dada, salvo erro, em Abril de 2009 - que estávamos perante uma insuficiência de 1.800 a 2.000 milhões de euros. O triplo do valor antes estimado. Isso não surgiu depois da nacionalização, já lá estava," conclui.
Perante isto, Teixeira dos Santos não se arrepende da decisão: "Se o Estado tivesse injectado 600 milhões, ficava com a criança ao colo e, a partir daí, teria de cuidar dela e injectar o que fosse necessário. E os custos não teriam sido diferentes dos que efectivamente tem vindo a suportar." Além disso, insiste, quis-se evitar o famoso risco sistémico: "Nas semanas após a falência do Lehman, a convicção era a de que poderia deflagrar um fenómeno de pânico, de corrida aos bancos, com consequências desastrosas. Os americanos deixaram falir o Lehman porque achavam que não era sistémico e deu no que deu", nota.
Sobre o papel do BdP, Teixeira dos Santos admite que o supervisor "deixou-se enganar no meio de tudo isto" e que "podia ter sido mais interventivo, mais duro, ter pressionado mais". Mas lembra que "o modelo de supervisão que reinou muito tempo era assente num pressuposto: que os agentes financeiros são pessoas idóneas de reputação, de palavra e, portanto, confiáveis". À distância de cinco anos, a conclusão é esta: "Aprendeu-se com esta crise que não se pode confiar tanto e temos de estar mais alertas. As mudanças na supervisão a nível europeu mostram essa consciência".
“Não me arrependo de ter nacionalizado o BPN” | Económico
Para o ex-ministro das Finanças, a necessidade de nacionalizar o banco "tornou-se clara na semana anterior à decisão". Teixeira dos Santos lembra que o Governo estava a acompanhar a situação "desde Junho de 2008, altura em que o banco foi sujeito a um ‘downgrade' do seu rating e passou ou a ter grandes dificuldades de financiamento" e que estava então "na expectativa dos resultados dos esforços que a nova administração liderada pelo dr. Miguel Cadilhe".
Depois, "os acontecimentos precipitaram-se, principalmente após a falência do Lehman Brothers". De um saldo superior a 300 milhões em Agosto, o banco passou para uma insuficiência de mais de 800 milhões em Outubro.
O cenário alternativo à nacionalização chegou através de Cadilhe. "Propôs um plano que implicava que o Estado injectasse, a título de capital, mas de acções preferenciais sem voto, 600 milhões de euros. Isto para cobrir uma insuficiência contabilizada em 700 milhões". Essa proposta, diz, significava "entrar no capital, sem voz na administração e em condições que não podiam ser aceites, até porque não iam de encontro a alguns requisitos e exigências do quadro comunitário".
E o que veio depois, sustenta o ex-ministro, apenas mostra que esta foi a melhor opção. Após a nacionalização, lembra, "o Deutsche Bank e a Delloite, que fizeram uma avaliação da situação do banco, constataram - informação que nos foi dada, salvo erro, em Abril de 2009 - que estávamos perante uma insuficiência de 1.800 a 2.000 milhões de euros. O triplo do valor antes estimado. Isso não surgiu depois da nacionalização, já lá estava," conclui.
Perante isto, Teixeira dos Santos não se arrepende da decisão: "Se o Estado tivesse injectado 600 milhões, ficava com a criança ao colo e, a partir daí, teria de cuidar dela e injectar o que fosse necessário. E os custos não teriam sido diferentes dos que efectivamente tem vindo a suportar." Além disso, insiste, quis-se evitar o famoso risco sistémico: "Nas semanas após a falência do Lehman, a convicção era a de que poderia deflagrar um fenómeno de pânico, de corrida aos bancos, com consequências desastrosas. Os americanos deixaram falir o Lehman porque achavam que não era sistémico e deu no que deu", nota.
Sobre o papel do BdP, Teixeira dos Santos admite que o supervisor "deixou-se enganar no meio de tudo isto" e que "podia ter sido mais interventivo, mais duro, ter pressionado mais". Mas lembra que "o modelo de supervisão que reinou muito tempo era assente num pressuposto: que os agentes financeiros são pessoas idóneas de reputação, de palavra e, portanto, confiáveis". À distância de cinco anos, a conclusão é esta: "Aprendeu-se com esta crise que não se pode confiar tanto e temos de estar mais alertas. As mudanças na supervisão a nível europeu mostram essa consciência".
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