Domingos Amaral
Os economistas gostam muito de usar as letras do abecedário para classificar as recessões. Há a recessão em V, com uma queda que é muito profunda, uma estadia curta no fundo, e uma recuperação tão rápida como a queda. Há a recessão em L, onde há uma queda inicial muito profunda, e depois não há qualquer tipo de recuperação, apenas um prolongamento do fundo. E depois há a recessão em W, que são duas recessões, dois V seguidos, onde por vezes a zona central do W é menos cavada. Nesse caso, há uma primeira queda violenta, descendo pelo primeiro V, depois chegamos a uma zona de recuperação, que é mais pequena que a descida. De seguida, a meio do W, há uma segunda descida para o fundo, que pode ser menos forte que a primeira Só depois se volta a recuperar fortemente, subindo pelo segundo V acima. Será isso que irá acontecer em Portugal, uma recessão em W? Olhando para o que foram os dois últimos anos, podemos admitir que em 2012, com um corte na despesa pública, os efeitos recessivos foram fortes, e caímos pelo primeiro V abaixo. Depois, em 2013, houve o aumento enorme de impostos, mas a recessão foi bem menos forte. Não sendo ainda uma subida, foi uma melhoria ligeira, uma subidinha a meio do W. Contudo, para 2014, o orçamento prevê brutais cortes na despesa e por isso arriscamo-nos a nova recessão. É muito possível uma nova queda, embora menos grave que a primeira, e que vamos parar a um ponto recessivo semelhante ao acontecido em 2012. Segue-se depois um crescimento rápido, subindo o segundo V depressa? É cedo para fazer esse tipo de previsões. Como diz toda a gente, incluindo Passos Coelho, há muitos "riscos". Mais do que riscos, ou além deles, há um evidente dilema português. O que é melhor: tentar corrigir o déficit do Estado, aumentando a recessão? Ou tentar evitar a recessão, deixando o déficit ser maior do que a troika pede? Eu pela minha parte, prefiro a segunda opção; mas a Europa e o Governo, é evidente, preferem a primeira. |
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