Francisco Seixas da Costa
A democracia portuguesa tem alguns fenómenos curiosos. Um deles, bem conhecido, é o Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV), uma formação na qual nunca ninguém votou diretamente em qualquer eleição, porquanto aparece sempre incluída numa "frente", que em tempos já se chamou APU e que agora se designa por CDU, onde o PCP é, sem surpresas, o partido dominante. O aproveitamento constitucional de uma "quota" de representação política, que permite a criação de um outro grupo parlamentar, duplica assim os tempos de palavra e, como agora se vê, garante que, no âmbito da mesma CDU, possam ser suscitadas duas moções de censura. Durante muitos anos, o PEV tinha como face mais visível a minha amiga Isabel de Castro. De há já algum tempo para cá, é a inconfundível voz de Heloísa Apolónia que passou a fazer parte do património sonoro do nosso parlamento. A mais enigmática formação neste âmbito é, porém, a "Intervenção Democrática", uma estrutura política cuja visibilidade e atividade quotidiana mereceria, estou certo, ser estudada numa tese de doutoramento. Desde sempre dirigida por um homem simpático, com quem tenho uma relação bem cordial, Corregedor da Fonseca, surgiu como que uma espécie de herdeiro do MDP-CDE, esse "alter ego" ou "compagnon de route" dos comunistas, que chegou a ganhar um lugar na história político-partidária portuguesa. Até 1988, a ID (é esta a sigla de uma formação a cujos comícios os portugueses nunca terão o privilégio de assistir) teve um grupo parlamentar e tudo. Desde então, surge apenas sazonalmente, numa espécie de "troika" com o PCP e o PEV no seio da CDU, criando a ideia de que forma uma aliança política, de incidência eleitoral, fruto da laboriosa conjugação dos três programas. Se estas três organizações - PCP, PEV, ID - se mantêm independentes, uma lógica de razoabilidade deve levar-nos a pensar que têm doutrinas e programas próprios, os quais, tendo necessariamente pontos comuns que justificam a permanência da "aliança", também têm, com certeza, divergências que justificam a sua existência autónoma. Ora esse é, para mim, o grande mistério. Em que pontos se afastam? Qual a sua idiosincrasia própria? Que conflitos ideológicos alimenta a ID com o PC? Em que se opõe o PEV ao PCP? Que temáticas dividem "Os Verdes" da ID? Estas são dúvidas com que vivo há anos. Serão bem-vindos comentários que me ajudem a atenuá-la. |
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