quinta-feira, 11 de julho de 2013

O novo verão quente

Francisco Seixas da Costa

 

Ontem, ao atentar na surpreendente evolução da situação política interna, senti-me como que regressado aos tempos depois de abril.

 

Aí temos um apelo à "Salvação Nacional", um conceito de sentido trágico que acarreta um subliminar tom de "finis patriae", de arrebanhar do que resta de quem seja capaz de "deitar uma mão a isto", um tempo que, além da obrigatória esperança, traz consigo a ideia dos homens providenciais (os medievos "homens bons"), iluminados pela autoridade que, pelos vistos, ainda projetam. 

 

Uma dúvida, porém, me assaltou: se a crispação na vida político-partidária é um dos fatores que aconselha a não realização de eleições a 29 de setembro (caramba, por pouco era quase o 28 de setembro!) então ela já se diluirá, pelos vistos com bastante mais facilidade, no pretendido processo de consensualização de uma nova plataforma partidária "a três"? Não estou a ver bem como é que isso se fará, mas admito que possa ser das minhas lentes.

 

Também muito interessante é o caso do ex-futuro do governo, que ontem vinha já desenhado por toda a imprensa, fruto de um recalibrar dos partidos e das figuras, que todos criam já abençoado por Belém. Ou muito me engano, ou acaba de criar-se, para a nossa pequena história política, um novo "governo Fabião", aquela formação de executivo que, em 1975, foi pré-desenhada à exaustão por quantos não aceitavam ter de optar entre a febre gonçalvista e as propostas "burguesas" que acabaram de servir de matriz ao VI governo provisório. Não quero ser irónico para os meus amigos do CDS, mas não consigo evitar que me escape algum sorriso. Aconteceu-lhes como ao Otelo: o cavalo do poder passou-lhes ao lado. Ou, como diria Mário Mesquita, perante outras desilusões desses tempos, "Deus não dorme".

 

Deixo-os com as palavras desse excelente poeta que é Vitor Nogueira, com as quais ontem fechei o meu "zapping" do dia. Ele falava do totobola, mas também dá para outros jogos de sorte:


Diz-se que há sempre uma hipótese.
É assim que o sistema funciona. Mas
para onde foge o tempo?
Para onde vai tanta força?

Restos de grandes fogueiras.

É para isso que as pessoas vivem.


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