sexta-feira, 31 de julho de 2009

Revelações que a crise nos traz - Expresso.pt

frase de Vítor Constâncio no Parlamento foi muito reveladora do nosso tempo.

O governador do Banco de Portugal disse que nunca pensou que Oliveira Costa fosse capaz de agir como agiu. Na verdade, parece inimaginável. Como a acusação de que são alvo os ex-gestores do BCP, com Jardim Gonçalves à cabeça.

Mas estas revelações - como a que ocorreu com Madoff e com tantos outros em todo o mundo - só surgem devido à crise. Ao contrário do que muitos têm dito, a crise não se deve à existência de gestores assim. O movimento é o oposto: descobrimos que há gestores assim, porque estamos em crise. E, por muito que a regulação controlasse as instituições e as pessoas, há sempre aspectos que escapam, meandros que não se entendem.

Mas a situação por que passam as empresas põe a nu outro aspecto bem mais perverso do que um grupo de banqueiros ambiciosos e eventualmente com poucos escrúpulos: a influência do nosso Estado na economia.

A crise permite que o Estado - e em Portugal, infelizmente, Estado é Governo (como "Banco é Caixa") - se torne cada vez mais poderoso. Quotidianamente assistimos a empresários e empresas que não sobreviveriam sem apoios, incentivos ou contratos com o Estado a pronunciarem-se sobre aspectos que estão em plena discussão política, pagando deste modo os favores que recebem. Quase diariamente percebemos que a sobrevivência de gestores e de projectos depende das boas graças do Governo, do facto de não denunciarem, de concordarem, de serem subservientes. E não se pense que digo isto em relação a este Governo específico - o mesmo mal que hoje temos com Sócrates já tivemos com Cavaco Silva ou com Durão Barroso e Ferreira Leite. É a própria organização do Estado que lhe permite dirigir a economia, sem que a sociedade civil mostre mais do que sinais de anomia e sem que as empresas contestem um sistema que as menoriza; pelo contrário, a maioria aproveita-se dele e parece preferir viver assim.

É por isso natural aparecerem tantos ex-políticos à frente de empresas. Como Oliveira Costa, que tinha sido secretário de Estado e funcionário do Banco de Portugal. Insuspeito, portanto...

É por isso que um negócio entre duas empresas aparentemente privadas, como a Prisa e a PT (onde abundaram ex-políticos) tem tanto que se lhe diga. Quando o Governo diz que não sabia, ainda que possa ser verdade, é politicamente falso.

O Governo controla a PT e muitos, senão todos os grandes accionistas da PT. Todos o sabem. Eu lamento-o.

Henrique Monteiro

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