Foi a partir de uma encomenda de António Mega Ferreira para a Expo-98 que Pina Bausch fez a sua peça portuguesa. Depois de uma residência artística em Lisboa, surgiu “Masurca Fogo”, que iria ser um marco na obra da coreógrafa alemã. A nosso pedido, o presidente do Centro Cultural de Belém escreveu sobre a artista alemã que reinventou a dança.
Não sei como é o mundo sem Pina Bausch, porque nunca me passou pela cabeça pensá-lo sem ela. Onde estávamos no momento em que ela morreu? Em que pensávamos? Que sonhos ou assombrações nos ocupavam o espírito? E sobretudo, porque não sabíamos que ela ia morrer (nunca soubemos que ela podia morrer), desprevenidos, nem imaginávamos que tudo isso podia ser matéria para as suas narrativas fantásticas, que passaram, nestas décadas, a fazer parte da nossa visão de tudo. O mundo tornou-se uma narrativa feita de estórias e da acumulação de sinais quotidianos, que a perspectiva cinematográfica de Pina Bausch encenava, através de um subtil sentido da montagem. De modo que o mundo sem ela não é bem o nosso mundo, a não ser no que dela nos ficar nas suas extraordinárias criações, perpetuadas pelos seus bailarinos e intérpretes. É um mundo diminuído, convenhamos. Até porque lhe falta o gesto terno, elegante, compassivo, o olhar longo e infinitamente humano dessa extraordinária criadora, que tivemos a felicidade de conhecer e admirar.
António Mega Ferreira:
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