segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ainda os Balcãs

Francisco Seixas da Costa

 

Um dia, contei neste blogue o seguinte episódio:

Foi há menos de 10 anos, em Sarajevo, a martirizada capital da Bósnia-Herzegovina. Era um jantar a que estava presente, como convidado e amigo do nosso representante diplomático, um membro do governo daquele país.

 

O equilíbrio político na Bósnia-Herzegovina, um país resultante da fragmentação da antiga Jugoslávia, é muito difícil, dado que, do executivo, fazem obrigatoriamente parte representantes de três diferentes etnias, com um complexo historial de conflito entre si: bósnios, croatas e sérvios. Não quero recordar a qual dos grupos étnicos pertencia o convidado local dessa noite.

 

O jantar tinha um caráter relativamente informal, no jardim da residência. Como não podia deixar de ser, a conversa cedo derivou para a política.

 

A certa altura, veio-me à memória que numa das minhas visitas a Sarajevo, nos anos 90, tinha conhecido um membro do governo da Bósnia-Herzegovina, pertencente a uma dessas minorias. Era um homem agradável e cordial, com quem eu havia criado uma forte relação de simpatia. Voltaria a encontrá-lo mais tarde, por duas vezes, na Grécia, onde ambos tínhamos ido a convite pessoal de Georgios Papandreou, atual primeiro-ministro, de quem éramos amigos. Perguntei por esse antigo ministro da Bósnia-Herzegovina.

 

Notei que o nosso convidado ficou um pouco embaraçado, mas respondeu:

 

- Está na Haia.

 

Ao meu lado, uma pessoa menos dada a interpretar, com a rapidez da nossa profissão, este tipo de informações, perguntou:

 

- Como embaixador?

 

Não sei se fui eu que me adiantei ou se foi o ministro que esclareceu que "estar na Haia" significava estar detido sob ordem do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia, que julga os crimes de guerra e que tem sede na capital dos Países Baixos.

 

Como dois diplomatas portugueses presentes bem se lembrarão, mudámos logo de conversa...

Terão reparado que omiti no relato o nome do político em causa. Ontem, ao abrir um jornal, dei-me conta que o croata Jadranko Prlic - era ele a figura a quem eu me referia -, acaba de ser condenado pelo TPI para a antiga Jugoslávia a 25 anos de cadeia. Não posso deixar de ter um pensamento para a sua mulher e filha, pessoas bem simpáticas com quem muito conversámos, em tempos em que Jadranko ainda não tinha sido chamado a pagar pelos crimes que terá cometido.

Nota: O mapa acima publicado mostra ainda o Kosovo como "província autónoma" da Sérvia. Hoje, o Kosovo foi declarado país independente, embora esse estatuto continue a ser contestado pela Sérvia e não seja reconhecido por importantes setores da comunidade internacional. O mapa (que pode ser aumentado nele clicando) revela bem o "puzzle" étnico da região.


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