Domingos Amaral
Para azar do Sporting, Bruno de Carvalho só ganhou à segunda a eleição para a presidência. Mas, pelo que tenho visto, está a provar ser o homem necessário para o clube de Alvalade. Diziam dele o pior, até houve alguns que o chegaram a comparar a Vale e Azevedo, mas pelos vistos estavam todos bem enganados. Até agora, Bruno de Carvalho tem sido inteligente, sereno e firme nas decisões. E, ao mesmo tempo e quando é caso disso, festeja as vitórias do seu clube - no fustal, no andebol - como um verdadeiro leão de bancada, o que lhe traz popularidade e até desperta simpatia. Mas é nas decisões de gestão que me tem surpreendido pela positiva. Primeiro, começou a "limpeza", tendo a coragem para despedir quem vivia há muito "à mama" do clube, desde velhas glórias a funcionários inúteis. Depois, tem sido contundente na negociação com empresários, estabelecendo o princípio de que o Sporting não negoceia na praça pública, não cede a pressões, e só faz negócios quando eles lhe são favoráveis. Por mais arriscada que seja essa postura, pois pode no curto prazo perder jogadores talentosos, é uma firmeza que dará frutos nos anos seguintes. Por fim, apresentou um projecto de reestruturação financeira que é essencial e bem pensado, ao contrário do que diz o Camilo Lourenço. Embora poucos falem disso, as novas regras do Fair Play Financeiro da UEFA podem vir a ser implacáveis para o Sporting se esta reestruturação não avançar. Qualquer clube que apresente três anos seguidos de prejuízos estará fora das competições da UEFA, e o Sporting tem um longo historial de perdas. Não sei mesmo se, caso este ano se tivesse qualificado, poderia participar. A UEFA apenas permite um "desvio aceitável" de 5 milhões de euros nos prejuízos, mas o Sporting está ainda muito longe desse desvio. Assim sendo, só há um caminho: uma reestruturação que transforme os credores em accionistas (debt for equity), e é isso que o Sporting vai fazer, acrescentando depois um aumento de capital, que os mesmos credores, agora já accionistas, deverão subscrever. Assim, os rácios financeiros começam a melhorar, o que é absolutamente essencial para o futuro. Também é bem pensado passar o estádio para a SAD, pois é um activo valioso, e as suas dívidas, que também passam para a SAD, não serão contabilizadas em termos de UEFA, que abre excepções nestes casos, bem como nas despesas de formação. Por fim, é preciso "reposicionar" a equipa de futebol, e parece-me que também aqui Bruno de Carvalho vai no bom caminho. O Borussia Dortmund é um excelente exemplo, que explico nas minhas aulas de Economia do Desporto na Universidade Católica. Em 2006-2007, estava à beira de descer de divisão. Apostou então numa equipa de jovens, limpou as dívidas e os passivos, e quatro anos mais tarde era campeão da Alemanha, duas vezes seguidas, e este ano chegou à final da Champions. É por aí que Bruno de Carvalho deve ir. Apostar nos jovens talentos de Alcochete, pagando-lhes bons salários para os motivar, em vez de gastar dinheiro em contratações inúteis de estrangeiros de qualidade duvidosa. Esta estratégia tem também um ponto forte adicional. É que a ligação afectiva dos sócios aos miúdos formados em casa é muito maior, bem como a sua tolerância para com as suas compreensíveis falhas. À conta dessa ligação especial o Dortmund tem o estádio sempre cheio. Se mantiver este rumo e esta postura, Bruno de Carvalho tem tudo para se transformar no presidente que revolucionou o Sporting e o salvou de uma calamidade. Por mais difícil que isso possa ser no início, o futuro será dele. Espero, daqui a dois ou três anos, poder apresentar aos meus alunos o "case study" bem sucedido da recuperação do Sporting. |
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