quarta-feira, 22 de maio de 2013

Mediterrâneo

Francisco Seixas da Costa

 

Coube-me falar da dimensão política da parceria mediterrânica, durante uma conferência na tarde de hoje, no Grémio Literário, em que foram igualmente abordadas as vertentes económica e política dessa nossa importante vizinhança geopolítica.

 

A propósito do modo como o mundo europeu e ocidental olha para a instabilidade em alguns países marcados pelas "primaveras árabes", dei comigo a dizer que "temo que, em determinada altura, comecem por aí a emergir discursos de "realpolitik", assentes na seguinte questão: é preferível um mundo árabe dominado por governos autoritários, mas que se revelem capazes de combater o extremismo islâmico e travar ações terroristas, ou valerá a pena continuar a apoiar a emergência de modelos de expressão democrática, através de cujas eleições acabem por chegar o poder correntes fundamentalistas que transformem essas sociedades em regimes religiosos radicais?"

 

Há terceiras "vias" para este falso dilema. Por exemplo, o trabalho que fazemos no Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, que dirijo desde Fevereiro, pretende, à sua modesta escala, contribuir para a criação de plataformas de diálogo no seio da sociedade civil dos Estados do norte de África, em especial pelo diálogo intercultural e inter-religioso. Trabalhamos e promovemos iniciativas com redes de organizações que se batem pelos direitos das mulheres - acesso à política, combate à violência contra as mulheres e ao tráfico de seres humanos -, e pela participação ativa dos jovens na vida cívica, desenvolvendo "universidades" e cursos (nomeadamente informáticos), tendentes à aprendizagem da cidadania democrática, à promoção da liberdade dos media e à utilização intensiva das redes sociais.

Ao longo dos 25 anos da sua existência, o Centro Norte-Sul do Conselho da Europa envolveu já largos milhares de pessoas, de muitos países, na imensidão das suas atividades destinadas a consolidar a democracia, a promover os valores da liberdade e as garantias do Estado de direito. É uma "gota de água" perante o oceano das perturbações que atravessam o mundo? Será, mas se não persistirmos em multiplicar este tipo de iniciativas, nunca chegaremos a nenhum resultado. Quem tem a razão consigo, na política como na vida, só é derrotado se desesperar.


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