terça-feira, 7 de maio de 2013

Carta a Luís Filipe Vieira

Domingos Amaral

Caro Luís Filipe Vieira,

Ontem, no meio da enorme euforia que se viveu do Estádio da Luz, entre abraços ao meu querido filho e aos outros companheiros de bancada, entre gritos e cânticos entusiasmados, de repente lembrei-me de si, e pensei em quanto deve estar contente e orgulhoso. 

É certo que, durante e depois dos jogos, temos tendência para falar muito mais nos fantásticos jogadores e nos maravilhosos golos, e igualmente no experiente e sagaz treinador. Nesses momentos, há pouca gente que se lembra do Presidente.

Mas, eu não quero deixar passar este dia sem lhe dar os parabéns pela chegada do Benfica a uma final europeia. Sim, parabéns senhor presidente, por este feito que nos proporcionou.

É evidente que, se o Benfica for campeão nacional, se ganhar a Liga Europa e a Taça de Portugal, será uma época extraordinária do nosso clube, e nesse momento os nossos heróis vão ser, como já são, Cardozo, Lima, Gaitan, Salvio, Matic, Luisão, Artur, e também Jorge Jesus.

Sim, mas isso é outra coisa, isso é o futebol em estado puro. Só que, antes de isso existir é preciso haver gestão, capacidade de decisão, lucidez financeira e essas em muito se devem a si, e é por tudo isso que o senhor hoje merece os parabéns.

Foram quase dez anos de presidência, e não foram dez anos nada fáceis. Muitas vezes fui crítico da sua gestão, mas hoje tenho de reconhecer que, sobretudo no último mandato, o senhor melhorou muito como presidente do nosso clube. 

No futebol, como na vida, aprende-se com os erros, aprende-se a errar cada vez menos, e percebe-se que o fundamental é ter uma grande equipa, com muito bons jogadores e um óptimo treinador, e que isso, mais tarde ou mais cedo, vai dar frutos.

É por isso que acho que o senhor merece os parabéns. Parabéns por ter mostrado a capacidade de resistência que mostrou ao longo desta década, parabéns pela crença e pelo entusiasmo que sempre colocou ao serviço do clube, parabéns pela constante melhoria das decisões sobre jogadores ao longo de dez anos.

Estar numa final europeia é o resultado de tudo isso: dos dias difíceis e das frustrações dolorosas; dos momentos bons prematuros que depois empalidecem depressa demais; dos erros e e das falhas; mas também dessa força interior que nos faz ser capaz de, todos os dias, voltar a acreditar que é possível, e voltar a lutar.

Pela minha parte, sinto que quase dez anos depois, o senhor conseguiu atingir o seu objectivo mais importante: fazer com que o Benfica seja uma instituição nacional que nos orgulhe pela forma fantástica como joga à bola, pelos jogadores excelentes que tem, e pelo treinador competente que tem. 

Nestes tempos em que os portugueses andam tão tristes, há pelo menos uma Luz de esperança para muitos. Obrigado por isso. 

Ao meu lado, no estádio, estava um rapaz que tinha 23 anos e eu abracei-o e disse-lhe que no ano em que ele estava a nascer, eu via pela última vez o Benfica numa final europeia. 23 anos são muitos anos, e foi muito difícil para todos nós...

Mas, em futebol, o futuro é que conta, e agora o futuro pode começar a ser nosso.

Ao meu lado no estádio estava também o meu filho Duarte, que tem apenas 11 anos, e que passou a segunda parte muito nervoso e com dores de barriga, tal era a aflição e o desejo de ver o Benfica em Amesterdão. 

No fim, os olhos dele brilhavam de uma alegria imensa e pura, o sonho de uma criança tinha-se realizado!

Obrigado sr. Presidente, por ter tornado possível este momento de felicidade do meu filho.

São coisas destas que o coração de um pai, como os corações de muitos outros milhões de pais e mães, jamais vão esquecer!

Um abraço

Domingos Amaral


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