Os tempos eram outros, as figuras que, por Portugal, faziam política também. Pouco dados ao mundo internacional, muitos tinham, como costumava dizer (cito de cor) o meu amigo Nuno Bredorode Santos, a fronteira do Caia como limite à sua livre expressão linguística. Alguns, como o Eça referia, cuidavam em falar "patrioticamente mal" certas línguas estrangeiras. Outros, nem isso podiam ou tentavam. Esta história é sobre um destes últimos.
O ambiente era um aeroporto de uma capital estrangeira, no termo de uma visita oficial, feita sempre com intérpretes à ilharga. As despedidas estavam como que concluídas, a delegação portuguesa tinha já embarcado e, como é de regra, o convidado seria o último a partir. Por uma qualquer razão, as coisas tinham "emperrado" e ninguém dava indicação para ele entrar no avião. O anfitrião, com quem, ao longo desses dias, falara através de um intérprete, e nitidamente apenas para encher o tempo com algo mais do que sorrisos ou gestos, disse ao nosso homem umas palavras em inglês. O intéprete desse país tinha-se sumido, e quem, da nossa parte, era por isso responsável também já tinha embarcado.
Porque vi o nosso político um tanto embaraçado, face ao comentário do seu anfitrião, que não percebera ou ao qual não sabia como responder, aproximei-me e, em voz baixa, disse-lhe "Se quiser que traduza alguma coisa...". O nosso homem olhou para mim, muito sério, e apenas retorquiu: "Eu quero é ir-me embora!". Contive o riso, fui avisar o protocolo e, um minuto depois, ele lá embarcou, de regresso à terra onde tinha as mais amplas liberdades linguísticas. Que não usava muito, valha a verdade.
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