Ontem, ao observar o modo como a chanceler alemã foi recebida em Atenas, dei comigo a pensar no constante peso da História no modo como os países mutuamente se olham.
Um dia há-de fazer-se um historial da germanofilia em Portugal, não necessariamente numa perspetiva caricatural, ligada ao tempo da 2ª Guerra mundial, mas numa dimensão temporalmente bem mais alargada.
No que me toca, e embora seja pouco dado a tropismos por pátrias alheias, sempre me senti um pouco "germanófilo", pela grande admiração que tenho pelo esforço notável de reconstrução e reconciliação interna daquele país, pela forma correta como nele foram e continuam a ser acolhidos os migrantes portugueses, pela constante seriedade colocada pela Alemanha nas relações económicas com Portugal. Nunca esqueço também o modo amigo como o antigo chanceler Helmut Kohl tratou o caso português nas instituições comunitárias e, já posteriormente, outras atitudes que muito nos ajudaram naquele contexto, de que fui testemunha próxima. No futuro próximo, espero poder continuar a ter razões para ser "germanófilo".
Na carreira diplomática portuguesa, a germanofilia foi sempre uma corrente minoritária, sendo superada, à evidência, pela anglofilia, pela francofilia e, um pouco mais tarde, pela americanofilia.
Nesse particular afeto por Berlim (e, temporariamente, por Bona), alguns mostraram sempre um zelo fora do vulgar. Um dia dos anos 90, um desses colegas foi "premiado" - reconheça-se, com algum exagero - com o aparecimento na porta do seu gabinete de um cartaz com dizeres que copiavam os modelos existentes nas fronteiras que, em Berlim, delimitavam o setor americano. Nesse cartaz podia ler-se: "Achtung! You are leaving the Portuguese sector".
Os anais das Necessidades não registam o nome do autor da brincadeira. Ainda bem.
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