Meu caro leitor, tive uma ideia genial para o futuro da nação, a saber: Portugal, num acto de caridade ímpar, devia doar a mente de José Sócrates às faculdades de psicologia. Porque, de facto, e muito a sério, ah, a Psicologia é a única coisa que pode explicar Sócrates. A Ética não entra naquela couraça. A Política e a Economia também não. Só os instrumentos psicológicos têm a capacidade para compreender este nosso genial primeiro-ministro. Só a Psicologia pode analisar a genial aversão do nosso primeiro à realidade (sim, genial; a maioria dos comentadores vê na negação da realidade uma "genial capacidade de comunicação"). Ora, sem grande esforço, apontei aqui alguns episódios e factos dos últimos dois meses (só dos últimos dois meses), que mostram como a cabeça de Sócrates é uma espécie de fenómeno do Entroncamento a merecer consagração científica imediata. Vejamos:
- Sócrates classificou de "selvajaria" a actuação de jornalistas brasileiros . Porquê? Porque os jornalistas brasileiros, desconhecendo os costumes brandos da nossa imprensa, rasgaram o código deontológico do jornalismo e ousaram fazer perguntas ao nosso primeiro-ministro , perguntas que não estavam nos cartõezinhos do Luís.
- Em Bruxelas, Sócrates insinua que jornalistas europeus estão ao serviço dos maléficos mercados . Porquê? Tal como os jornalistas brasileiros, os jornalistas europeus são péssimos profissionais e fazem perguntas difíceis.
- Foi preciso um motim de Teixeira dos Santos para forçar José Sócrates a pedir ajuda . Reparem bem: foi preciso um motim do ministro das finanças para que o primeiro-ministro acabasse com o seu teatrinho. Ainda estou para saber como é que isto não dominou as últimas semanas em Portugal. São os mistérios da República do "ó Luís".
- O primeiro-ministro abandonou o parlamento no início da mais importante sessão parlamentar em décadas. Este desrespeito pelo parlamento não gerou polémica nos jornalistas e nos comentadores. E depois é o povo que não tem cultura cívica. - O governo quis silenciar a UTAO, essa instituição que já veio desmentir as contas do governo em relação à execução orçamental deste ano.
- O primeiro-ministro mentiu aos portugueses sobre o documento da troika, nomeadamente na questão da TSU.
- O governo não disse a verdade sobre o uso de fundos da Segurança Social para a compra de dívida.
- O primeiro-ministro disse que algumas pessoas que se manifestavam contra o PS eram "pessoas que não sabem o que é a democracia". Ou seja, uma manif anti-PS só pode ser composta por bandidolas. Aliás, protestar contra o PS devia ser proibido.
- No debate com Passos, José Sócrates disse que o líder da oposição não devia criticar o governo daquela maneira, porque isso punha em causa o país. Notável teoria política: criticar o governo é o mesmo que criticar a nação. O dr. Salazar ia gostar muito.
- No debate com Passos, Sócrates subia às paredes sempre que Passos dizia "bancarrota". Sócrates chegou a dizer qualquer coisa como isto: "mas v. está sempre a falar de bancarrota, que mania". Os contactos com a realidade são, de facto, raros na mente no nosso primeiro. A bancarrota já é um facto (é por isso que pedimos ajuda), mas Sócrates continua a negá-la.
E há mais, muito mais. E nem seria preciso ir além dos últimos dois meses para encontrar mais tiros no pé do senhor engenheiro. Sócrates é mesmo um tratado psicológico por escrever. Num acto de piedade cristã, a nação deve doá-lo às faculdades de psicologia.
Henrique Raposo (www.expresso.pt)
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