quarta-feira, 27 de abril de 2011

PREÇO COMBUSTÍVEIS - Cartaaberta de Capitão da Marinha Mercante

 

                      CARTA ABERTA
 
Prezado Dr. Carlos Barbosa


Presidente da Direcção do Automóvel Club de Portugal

Lisboa, 9 Março 2011
 
 
ASSUNTO: O DESCARADO AUMENTO DOS COMBUSTÍVEIS
TRÊS PERGUNTAS A FAZER ÀS GASOLINEIRAS
 
O elevado custo a que os combustíveis chegaram é um doloroso espinho na nossa economia.

Torna-se urgente removê-lo ou pelo menos evitar que se enterre mais, se a quisermos salvar de "morte certa".

O preço dos combustíveis assenta em quatro custos básicos:

1 - A matéria prima (ramas de petróleo)
2 - O transporte marítimo (frete)
3 - A refinação (transformação do crude nos produtos de consumo)
4 - A distribuição (armazenagem e colocação nas bombas)

Mas as nossas gasolineiras (Galp/BP/Repsol/Shell,etc.) parece só conhecer o primeiro ou escondem os restantes.

HÁ TRÊS PERGUNTAS URGENTES A FAZER :
 
A primeira grande situação escandalosa do custo dos combustíveis, que abastecemos nas bombas, advêm do facto das gasolineiras, quando trocaram a compra da matéria prima proveniente dos portos do Golfo Pérsico, cerca der 15 dias de viagem, pela dos portos do Norte e do Oeste de África, cerca de 3 a 6 dias de viagem, nem um só cêntimo alguma vez baixaram seus preços ! (Alguém soube de tal ?)

Por exemplo se os fretes estiverem a 1 dolar/tonelada/dia de viagem (para usar nºs simples pois o valor é superior) teremos que, no caso dum petroleiro de 100 mil toneladas, com aquela troca de origem resultaria:

De     100.000x1x15 = 1.500.000 dólares
Para  100.000x1x3ou6 =  300.000 ou 600.000 dólares

Uma redução fabulosa !

A pergunta que o ACP deve fazer:

QUEM BENEFICIOU COM ESTA REDUÇÃO DE FRETES ?
 
A segunda grande situação escandalosa advêm do facto (pelo menos no momento actual) da escalada do custo das matérias primas  se ter iniciado há menos de um mês e as gasolineiras já fizeram três aumentos.

O primeiro escândalo, nesta situação, é o facto de que todo o produto refinado, entregue na distribuição naquele período de tempo, foi primeiro adquirido nos mercados estrangeiros em "spot" a longo termo (talvez seis meses ou mais) com custos muito inferiores aos actuais), depois feito o afretamento dos navios petroleiros estrangeiros (que os não há portugueses) nos "brokers" internacionais, nem sempre de pronto disponíveis.

Depois realizam-se as viagens das origens daquela matéria, para os terminais de Sines e Leixões.

Seguiu-se o processo de tratamento e refinação, tanquagem e distribuição. Tudo levando largas semanas senão meses até ao consumidor.

A pergunta a fazer é:

A QUE PREÇO PAGARAM AS GASOLINEIRAS AS RAMAS QUE SINES E LEIXÕES RECEBERAM NAS ÚLTIMAS SEMANAS ?
 
A terceira situação escandalosa advêm do facto do petróleo bruto ali recebido, primeiro não ser todo proveniente do mesmo terminal de origem, fretes diferentes, depois não possuir as mesmas características (mais ou menos "light" ou mais ou menos betuminoso, etc.) de que resulta produtos refinados de diferente qualidade.

A pergunta a fazer é:

COMO É QUE TODAS AS GASOLINEIRAS CONSEGUEM, COM TAIS PARÂMETROS, FAZER O MESMO PREÇO DE VENDA E NO MESMO DIA ?
 
A minha solicitação a meu prezado Presidente do ACP para que se coloquem estas questões às gasolineiras é porque a mim a elas não me respondem.

Faço parte daqueles que "elas" consideram de "tansos pagantes", apesar de ter andado algumas dezenas de anos no transporte de hidrocarbonetos e viajado mais de um milhão de milhas em navios petroleiros por esse mundo fora do petróleo.

Como seria bom ler o que nos vão (se) responder...

E talvez com as respostas dadas o Sr. Ministro responsável pelos transportes saísse da meditação em que se encontra e nos ajudasse a resolver o assunto.


E com um muito saudar vos solicito minhas escusas.
 
Joaquim Ferreira da Silva - Sócio nº 3147
Capitão da Marinha Mercante (Reformado)
Membro da Secção de Transportes da Sociedade de Geografia de Lisboa.

 

 

 

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