É de todos os tempos. Ficar isolado numa conversa cruzada, durante um jantar oficial, mantida entre vizinhos situados à sua esquerda e à sua direita, é uma situação inconfortável, particularmente se se tratar de uma mesa longa, em que não dê para falar com um terceiro parceiro. Se a educação dos vizinhos o permite, ou se a nossa imaginação conseguir descortinar uma aberta, pode ser que tenhamos oportunidade de entrar na charla, embora, às vezes, um tanto "à bruta" ou a despropósito.
Aquele diplomata estava a passar horrores, num jantar chato e longo. Quase desde o início, as suas duas vizinhas, desinteressadas dos comparsas que tinham do seu outro lado, mantinham-se a falar entre si, inclinadas para a frente. Conferiam preços, falavam do custo de vida. De início, o diplomata fez de conta que estava interessado naquele tráfego de custos, olhando alternadamente para as suas companheiras de mesa, qual árbitro de um jogo de ping-pong. Mas os números continuavam a fluir, em torno de produtos completamente alheios ao seu círculo de interesses: alimentação, higiene e roupa de senhoras eram temas escalpelizados ao cêntimo, com informações detalhadas sobre os locais de compra mais favorável. Mas, no geral, a queixa assentava na exorbitância do custo de vida local.
A certo passo, o diplomata "encheu-se" e não resistiu:
- Têm toda a razão. Isto está "pela hora da morte". Já nada é barato! Sabem o preço dos leões?
As duas "gralhas" silenciaram de surpresa e o nosso homem prosseguiu:
- Pois fiquem a saber que um leão jovem custa hoje 100 mil dólares! Pensarmos nós que, há meses, se comprava o mesmo leão por 30 mil...
E o nosso diplomata continuou, detalhando o preço dos macacos, dos canários, das galinhas-de-angola, etc.
As vizinhas calaram-se, finalmente.
Li esta história num livro que vivamente recomendo: "Os bastidores da diplomacia", de Guilherme Leite Ribeiro, um diplomata brasileiro com boa escrita e humor.
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