João Vieira Pereira (www.expresso.pt) |
A crise do sub-prime nos Estados Unidos lançou o pânico nos mercados, com os investidores a recusarem-se a emprestar dinheiro. A existência de liquidez nos mercados é fundamental para que a economia global funcione e, com o fechar da torneira, todo um sistema colapsou. Um dos primeiros bancos na Europa a pedir ajuda para fazer face a esta escassez de dinheiro foi o Northen Rock, um dos 10 maiores do Reino Unido. Nessa altura, os indicadores do banco não demonstravam uma situação preocupante. Claro que tinha uma elevada exposição ao mercado hipotecário onde ia buscar o dinheiro, ao contrário da banca tradicional que favorece os depósitos dos clientes, mas nada que deixasse antever o caos a que chegou. Com o pedido de ajuda ao Banco de Inglaterra, no fim do Verão de 2007, apareceram os primeiros rumores sobre a solidez financeira do Northen Rock. Os clientes começaram a retirar o seu dinheiro do banco, receosos do que poderia acontecer. A corrida aos depósitos fez colapsar o banco, que acabou por ser nacionalizado apenas em fevereiro de 2008, cinco meses depois de ter pedido ajuda para enfrentar a incapacidade de arranjar liquidez. A falência deveu-se principalmente à falta de confiança no banco, na sua gestão e na sua estratégia. Na banca, as características associadas ao nome do banco são mais importantes do que os seus indicadores. É arriscado comparar o BCP com o Northen Rock - as diferenças são maiores do que as semelhanças -, contudo a analogia em relação à confiança na instituição é enorme. O BCP enfrenta uma crise de identidade que começou com a guerra pelo poder dentro do banco. A partir daí foi sempre a descer. Não vale a pena colocar as culpas na atual administração. O dedo tem de ser apontado aos acionistas que permitiram durante anos que o banco fosse gerido por um grupo de executivos que achavam que eles eram o banco e que o banco era deles. Os mesmos acionistas que alimentaram uma guerra sem precedentes que lançou o banco numa espiral de descrédito. O ataque da última semana é ainda o resultado destas trapalhadas e é fácil perceber que coisas como estas continuarão a acontecer. O BCP enfrenta o maior desafio de sempre: afastar-se das polémicas e voltar a ganhar os seus clientes e o mercado. Na banca a confiança é tudo, demora-se anos a conquistá-la e horas a perdê-la. E o BCP anda há anos a destruir essa confiança... eis o resultado.
Texto publicado na edição do Expresso de 17 de julho de 2010
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