Clientes admitem processar Banco de Portugal, por não ter imposto provisão para acautelar o ‘default’ do ESI, como fez no BES. Rio Forte pede protecção contra credores.
Com as insolvências das holdings ESI e da Rio Forte formalizadas (ver caixas), o terramoto no Grupo Espírito Santo (GES) está prestes a passar para outro nível, o dos processos judiciais. Ao que o Diário Económico apurou, vários clientes do banco suíço do grupo estão a ponderar processar o Banco de Portugal (BdP) e o supervisor suíço, por não terem obrigado à constituição de uma provisão especial que acautelasse o incumprimento no reembolso do papel comercial do GES, como foi feito no Banco Espírito Santo (BES).
"O Banco de Portugal agiu bem ao obrigar o BES a acautelar essa possibilidade, mas deixou de fora os clientes do Privée, que investiram nessa dívida através da sucursal do banco suíço em Portugal e em muitos casos foram encaminhados pelos funcionários do BES", disse ao Diário Económico um dos advogados que representam clientes do banco suíço.
O BdP tem-se defendido dizendo que o Privée está fora da sua supervisão, por ser suíço.
Nos últimos anos, o GES vendeu centenas de milhões de euros em papel comercial a clientes do Privée, a sua unidade de gestão de fortunas, detido em 100% pelo Espírito Santo Financial Group (ESFG). Com a insolvência da ESI e da Rioforte, estes clientes deverão perder grande parte dos montantes investidos, já que a dívida do grupo - superior a sete mil milhões de euros - será reestruturada. Entre os lesados estão o magnata Américo Amorim e outros empresários portugueses, bem como clientes afluentes dos EUA, Europa e Brasil, no que constitui um rude golpe na imagem internacional da família Espírito Santo.
A mesma fonte adiantou que vários investidores estão a estudar processos contra os supervisores, mas frisou que a "prioridade é salvaguardar ao máximo o património dos clientes".
No final de Março, o Banco de Portugal obrigou o ESFG, casa-mãe do BES, a constituir uma provisão especial de 700 milhões de euros, para fazer face a um eventual incumprimento na dívida da Espírito Santo International (ESI), a holding de topo do GES.
Este incumprimento acabaria por verificar-se em Julho, tendo a ESI e a sua subsidiária Rioforte pedido protecção contra credores. Os clientes de retalho do BES serão reembolsados pelo banco, ao abrigo da referida provisão, mas os do Privée não são abrangidos. "Para os clientes do Privée, não havia diferença entre o BES e o banco na Suíça, que identificavam como o ‘private banking' do BES", realçou, recordando que o ESFG detém o Privée em 100%.
Suíços ‘salvam' Privée
Entretanto, o Privée anunciou ontem que vendeu parte do seu negócio à Compagnie Bancaire Helvétique, sem referir montantes. Tanto a Rioforte como a ESI estão insolventes e o ESFG pode seguir pelo mesmo caminho, pelo que o negócio na Suíça terá sido uma forma de proteger o Privée.
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