Moita Flores, presidente da Câmara de Santarém, é peremptório ao negar o seu voto a Manuela Ferreira Leite e afirma ser possível, embora ainda não o saiba, que venha a votar no PS. Flores é presidente eleito em lista do PSD e candidato a nova eleição novamente em lista PSD. A divergência que mantém com Manuela Ferreira Leite ("não é possível distinguir entre corruptos maus e corruptos bons" - diz ele ) não é, pelos vistos, suficientemente forte para que recuse o apoio do partido. O que temos, portanto, é alguém debaixo do guarda-chuva do PSD a dizer mal do dono do guarda-chuva.
Uma atitude destas é não só feia como incompreensível. E, no entanto, Moita Flores até pode ter razão nas críticas que faz à liderança social-democrata e nos elogios que tece ao Governo socialista, a quem está justamente agradecido. O problema é que, colocando-se no patamar dos princípios quando critica Manuela Ferreira Leite, Moita Flores deixa-se, depois, ficar no patamar oportunista de necessitar dos votos do partido para poder ser reeleito autarca, pois todos sabemos como seria diferente uma candidatura independente contra um candidato que ostentasse o apoio do partido.
A política, infelizmente, vai sendo feita cada vez mais com menos princípios, com menos ética, com menos transparência. Durante as minhas férias fui surpreendido por uma guerra surreal sobre espionagens no Palácio de Belém que não mereceria um minuto de atenção se, qual gato escondido, não houvesse por ali a intenção de alimentar uma guerra que já existe e que não precisa de quem lhe atire achas para a fogueira. Julgava eu que regressaria e que se estariam a discutir as diversas propostas dos partidos. Puro engano. O PSD aposta forte em dizer o menos possível, aposta forte em que valerão mais os erros de Sócrates do que os eus próprios argumentos. As propostas estão à esquerda, com a guerra cada vez mais acesa entre PS, PCP e BE, e à direita no PP, que sabiamente vai marcando o seu terreno
O que aí vem, o cenário pós eleitoral, como já aqui mesmo escrevi há meses, pode ser um "cenário de guerra". Sem uma previsível maioria absoluta no horizonte e com os diversos protagonistas a cavarem sucessivamente maiores distâncias e maiores obstáculos para relacionamentos futuro, não se vê como se vai atingir a estabilidade. A Itália viveu anos num caos partidário. Durante muito tempo dizia-se que trágico seria a Itália ter uma maioria... Saberá Portugal viver nesse caos?
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