Numa atitude inusitada, a Galp Energia fez publicar um comunicado de página inteira em diversos jornais com o título: "Galp Energia esclarece sobre declarações incorrectas do Prof. António Costa Silva relativas ao preço dos combustíveis". Coisa grave, terá deduzido o leitor. Tentemos então compreender o que se passou, mas faço a minha declaração de interesses: tenho o privilégio de ser amigo de António Costa Silva há muitos anos. Mas não lhe faço nenhum favor ao considerá-lo um dos melhores especialistas do país na área energética, como o seu currículo amplamente comprova.
Em primeiro lugar não se percebe porque é que o presidente da Galp não respondeu a Costa Silva também na SIC Notícias, ou a um jornal. Costa Silva é presidente da Partex Oil & Gas, o braço-armado da Fundação Gulbenkian para o sector energético. Deve ter qualidades para a função, porque o presidente da instituição, Rui Vilar, não tem fama de se rodear de incompetentes. Desvalorizar as suas afirmações através de um anúncio não dignifica a Galp.
Segunda questão: revendo as palavras de Costa Silva nunca ele citou a Galp ou outro operador, antes sublinhou que se trata de empresas idóneas. O foco foi colocado no mau funcionamento do mercado e a crítica dirigida à Autoridade da Concorrência (AdC), que estuda muito mas actua pouco. É assim incompreensível que a Galp tenha tomado para si as dores da AdC. Será má consciência?
Terceira questão: afirma a Galp que Costa Silva desconhece totalmente a formação do preço dos combustíveis, quando diz que entre Julho e Setembro de 2008 o petróleo caiu 45% mas nas bombas o gasóleo desceu apenas 10% e a gasolina 6%. Sublinha a Galp que os preços também incluem os custos fixos das companhias e impostos: "para que o preço dos combustíveis subisse ou descesse na mesma proporção do crude era necessário que todos os componentes que formam o seu preço variassem na mesma proporção e que o câmbio entre o euro e o dólar fosse constante. Isso não só não acontece como não é possível".
Ah, sim? Que grande novidade! Então mas esta justificação serve só para as descidas ou também para as subidas? É que para as subidas, a justificação da Galp assentou sempre, mas sempre, nos aumentos do crude - e nunca teve a gentileza de nos informar que, como os custos fixos não subiam na mesma proporção, os aumentos seriam mitigados.
Mas não me lembro de ninguém da Galp fazer esta observação...
E em qualquer caso, os custos fixos e a paridade euro/dólar justificam que contra uma descida do crude de 45%, os combustíveis nas bombas só tenham descido 6% e 10%? Será que na Galp conhecem a teoria económica explicativa deste tipo de fenómenos, que fala em rockets and plumes, ou seja, preços que sobem rapidamente mas que depois descem muito lentamente, ficando o benefício do lado das companhias e não dos consumidores?
Não conhecem, certamente. Assim como desconhecem que, ao contrário do que dizem no comunicado, o último relatório da AdC defende a implementação do umbundling, ou seja, a separação de diversas actividades da empresa, da produção de petróleo à distribuição de combustíveis. É que se a Galp não consegue reduzir os seus custos fixos para assim ajudar a descida do preço dos combustíveis nas bombas, então alguém tem de o fazer por ela. E a separação de actividades é o único caminho.
Revolução no sector automóvel
Está em marcha uma revolução discreta e silenciosa na indústria automóvel - mas imparável. Vários países alinham-se para não perder esta oportunidade. E desta vez, Portugal parece estar bem posicionado.
Falo, claro, dos veículos eléctricos e das baterias de iões de lítio, parte das quais, a partir de 2012, passarão a ser produzidas na fábrica que a Nissan vai instalar em Portugal. Várias empresas estão envolvidas na criação de uma rede no país para abastecimento de veículos eléctricos. Em universidades nacionais transformam-se veículos convencionais em eléctricos. E há investigação privada em relação às baterias de iões de lítio. Tudo à procura de respostas para: como é possível aumentar a autonomia e a velocidade dos veículos eléctricos? Como se reduz a dimensão e o peso das baterias de iões de lítio, bem como o seu preço e a sua duração?
A corrida está em curso e os sinais acumulam-se. A 6 de Agosto, o Departamento de Energia dos Estados Unidos anunciou uma lista de 48 empresas contempladas com 2,4 mil milhões de dólares para "fabricar a próxima geração de baterias e componentes para veículos eléctricos". A lista começa com a Johnson Controls (o maior fabricante mundial de baterias de chumbo) e acaba em escolas que irão dar formação em "Advanced Electric Drive Vehicle Education Program".
Três dias depois, foi anunciado que os dez maiores fabricantes chineses de automóveis decidiram criar uma joint-venture de I&D para o desenvolvimento conjunto de componentes para veículos eléctricos.
São sinais mais que suficientes para ser mantida a aposta de tornar Portugal um mercado-teste para os veículos eléctricos, mas também para as empresas portuguesas participarem activamente nesta revolução.
O fim da recessão técnica
O crescimento da economia portuguesa em 0,3% no segundo trimestre do ano é uma excelente notícia. E por três razões. A primeira é que a economia portuguesa estava a cair há três trimestres (desde o terceiro de 2008) e este número inverte essa tendência. Termina assim a recessão técnica em que nos encontrávamos, definida como a quebra em dois trimestres consecutivos de uma economia.
A segunda é que, na zona euro, só três países registaram crescimentos positivos: Alemanha, Inglaterra e Portugal. É um facto que deve ser realçado. Portugal não só entrou em recessão mais tarde que outros como é dos primeiros a sair dessa situação. Em terceiro, esta recuperação deve-se essencialmente ao acréscimo das exportações, em particular para a Alemanha, o que é uma forma sã de sair da crise.
Claro que não só não há razões para euforias, como permanecem ainda sérias incógnitas. Não há motivo para euforias porque 1) a economia, apesar deste número, vai registar em 2009 um crescimento negativo acima dos 3,5%; 2) o desemprego vai continuar a crescer, até porque existe um desfasamento de nove meses entre o momento em que a economia inicia a recuperação e aquele em que o mesmo acontece no mercado laboral.
Quanto às incógnitas, elas residem no que vai acontecer no sistema financeiro internacional, que enfrentará nos próximos meses um acréscimo substancial do crédito malparado. Isso implicará a necessidade de novos aumentos de capital e a dúvida é se ele existirá disponível e interessado em fazê-lo. Se tal não acontecer, os bancos serão obrigados a refrear a concessão de crédito para manter os rácios de solvabilidade - o que pode conduzir a nova fase recessiva.
Mas até lá, depois de tantas desgraças, gozemos esta pequena mas excelente notícia. Nicolau Santos Expresso.pt
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