sexta-feira, 4 de outubro de 2013

O futuro da PT

Francisco Seixas da Costa

 

Escrevi aqui um dia que, cada vez mais, só emito opiniões firmes sobre questões relativamente às quais julgo possuir conhecimentos suficientes para formular um juízo minimamente consistente. Quanto ao resto, posso ter vagas ideias, mas elas não dão mais do que para uma mera conversa de café.

 

É este último sentimento que tenho face à questão da fusão da PT com a brasileira Ói, que por uns dias vai dominar o debate público e que, com toda a certeza, irá ser objeto de tomadas de posição, definitivas e enfáticas, por parte dos nossos conhecidos "tutólogos" - essa originalidade nacional que nos dá o privilégio de possuir um mão cheia de figuras que falam e escrevem de cátedra, sobre tudo o que "vem à rede", desde o desporto à economia, da saúde às obras públicas, passando naturalmente pela política, área em que são ases deste baralho de bisca lambida que nos calhou em rifa.

 

Por coincidência, e ao tempo em que era embaixador português no Brasil, tive o ensejo de participar em conversas que Henrique Granadeiro manteve com entidades oficiais brasileiras, com vista a apresentar-lhes o modelo estratégico que a PT tinha em perspetiva para aquele país. Não podendo entrar aqui em detalhes, porque a reserva profissional a isso não me autoriza, posso contudo dizer que esse modelo procurava associar, de forma criativa, valências empresariais dos dois países, com a finalidade de obter importantes ganhos de escala, com impactos pretendidos no espaço global da língua portuguesa, numa lógica que excedia em muito as meras comunicações para se prolongar na futura gestão de conteúdos. Era um formato que, ao tempo, parecia coerente e com perspetivas de ser uma boa aposta para o futuro.

 

Muita água correu, entretanto, sob as pontes. As alianças da PT no Brasil acabaram por ser algo diferentes das que, à época, pareciam ser as mais desejáveis. Foram, com certeza, as possíveis e é nesse novo quadro que o modelo agora anunciado se concretiza.

 

Como disse, não tenho a menor opinião sobre a bondade da opção seguida. Tenho, porém, duas certezas. A primeira é a de que Henrique Granadeiro é uma personalidade que, ao longo destes anos, maturou e mostrou uma leitura estratégica para a PT, feita de uma grande experiência e de um evidente acumular de sucessos. A segunda é de que Zeinal Bava é, nos dias que correm, reconhecido como um dos mais brilhantes gestores mundiais na área das telecomunicações. Só podemos esperar que a decisão que ambos tomaram - e que, do lado da PT, cabe essencialmente aos acionistas avaliarem - tenha sido a melhor.


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