JPP
Um novo ministro falou onze vezes em "consenso" numa conferência de imprensa para anunciar coisa nenhuma, e o arrebatamento do engano foi conseguido. Aliás não é muito difícil. Logo a seguir vieram as "histórias" sopradas: que o novo ministro estava a mudar tudo, objectivos, linguagem, intenções, uma "lufada de ar fresco". Basta parar para pensar para se perceber que tudo isto é pura e simplesmente inverosímil. Um novo ministro, ainda por cima sem experiência qualquer de governo, entra no Conselho de Ministros sempre com prudência. Se é inteligente, vai aliás mais para ouvir e perceber do que para "entrar a matar", começando a "mandar". Sim, porque aquilo que é descrito como o impacto da sua presença e intervenção é o de quem "manda". Ora, a não ser em circunstâncias muito especiais, que em nada correspondem nem ao perfil do ministro, nem à atitude do primeiro-ministro de o pôr como homem forte do governo, essa atitude de "mando" geraria enorme controvérsia no Conselho de Ministros. Aqueles homens, por muito obedientes e agarrados ao lugar que estejam, - o que também não é verdade para alguns, - não iriam permitir que o parvenu fosse ali "revolucionar" a reunião, e implicitamente dizer-lhes que estão a fazer um mau trabalho. Por tudo isto, o papel do novo ministro não pôde nunca ter sido este. Pode ter aconselhado ao Primeiro-ministro algumas atitudes e comportamentos, mas também nada que não seja o óbvio, e o esperável. Sendo esse conselho "fruta da época", também não adiantaria muito. Entre a troika a dizer a Passos Coelho, no tom vago, abstrato e "estrangeiro" com que essas coisas podem ser ditas, que é preciso garantir o envolvimento do PS, e as opiniões de um ministro, mesmo salvífico, o Primeiro-ministro o que quer saber é do que a troika lhe diz. Portanto, quando ele lá chegou, já o "consenso" era a nova palavra de ordem. E aqui é que entra o novo ministro, para dar uma face "política" engolida com gosto pela comunicação social que vive na superfície das coisas. Na verdade, não há problemas para os ministros aceitarem que o novo ministro "dê a cara", que só ele pode dar visto que não tem passado de litígios parlamentares com o PS, e pode mais facilmente passar por "novidade". Isso eles não só permitem como estimulam, até porque sabem que estas coisas não duram muito. Velhas raposas muitos deles, se há coisa que eles sabem fazer é este jogo de dança com a comunicação social. Eles sabem, como já escrevi noutro sítio, que a "novidade é a cenoura da comunicação social" e por isso só um ministro a recitar onze vezes a palavra "consenso" podia exercer esse efeito. Mas e o "consenso"? |
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