Francisco Seixas da Costa
Eu tinha feito um comentário conjunturalmente algo ácido a propósito da "performance" de uma certa personagem político-institucional. Acontece-me cada vez mais, confesso. No grupo em que estávamos, um colega, diplomata ainda no ativo, saiu-se com esta: - Você diz isso porque já está depois de Cristo! Nesse instante, essa pessoa foi chamada por alguém e abandonou, por momentos, a sala. Perguntei aos circunstantes se tinham percebido o que ele teria querido significar com o que tinha dito. Ninguém tinha entendido o comentário. Por que raio estaria eu "depois de Cristo" e não "antes de Cristo"? O colega regressou e eu pedi que fosse mais claro. Foi: - Você já se pode dar ao luxo de dizer essas coisas, de fazer esses comentários, porque já não precisa "deles", porque já recebeu, creio que há quase 10 anos, a grã-cruz da ordem militar de Cristo, a mais alta condecoração a que poderia ambicionar. Ora eu ainda ando a lutar por ela, pelo que comigo "a coisa fia mais fino", tenho de ter muito cuidado, embora - confesso! - partilhe em pleno a sua opinião... Percebi a prudência desse colega. Mas não pude deixar de pensar que, precisamente nos tempos imediatamente antes de eu receber "o Cristo" (como na carreira, simplificadamente, sempre nos referimos àquela comenda), eu tinha dito publicamente de alguns "deles" o que Maomé não diz do toucinho. Não de todos, reconheço. Não por receio, mas simplesmente porque o não mereciam. |
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