cura do vício do crédito posta em prática em Portugal em meados de 2011 tem estado a resultar, ainda que com alguns efeitos secundários que agora começam a manifestar-se.
O garrote ao crédito imposto desde o início do programa de ajustamento levou o sector privado - famílias e empresas - a baixar - voluntaria ou involuntariamente - o nível de endividamento 17,3 mil milhões de euros desde o final de 2010, com a factura a baixar de 486,6 mil milhões para 469,3 mil milhões de euros até Dezembro último (-3,6%). Mas se estes dados parecem corresponder ao êxito de um dos grandes objectivos do programa da troika, por outro lado, este estrangulamento, à imagem do combate à crise, tem sido feito sem grande critério, queixam-se as empresas, que apontam que o crédito é cada vez mais escasso, independentemente de quem o pede ou para o que é pedido.
Esta semana tem sido marcada por algumas trocas de argumentos entre governo e banqueiros sobre o acesso ao crédito pelas empresas. O executivo acha que pode impor à banca que aumente o nível de financiamento à economia, mas a banca queixa-se que apesar de todo o alarido a procura por crédito tem sido escassa. “As empresas estão ainda com medo e a travar o investimento. Mas é por aí que a economia vai crescer”, comentou Ricardo Salgado, do BES. Ontem, o FMI veio explicar o porquê desta baixa procura: em Fevereiro, a banca portuguesa praticava uma taxa de juro média real às empresas superior a 3,5%, valor bem mais elevado que as taxas praticadas no grupo de 12 economias analisadas - Portugal, Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, França, Finlândia, Alemanha e Áustria. Depois de Portugal, a taxa mais elevada é a grega, de 1,8%, segundo salientou o “Dinheiro Vivo”.
A razão de juros tão altos em Portugal pode encontrar-se num outro indicador que tem marcado o programa de ajustamento: nos últimos dois anos, com o empobrecimento generalizado da população, o crédito malparado das famílias e das empresas explodiu. Os últimos dados do Banco de Portugal, de Fevereiro, mostram que as empresas portuguesas contam com mais de 10,8 mil milhões em crédito malparado - valor que representa um crescimento de 105% em relação a Janeiro de 2011.
Para dirimir o impacto deste maior risco de emprestar dinheiro em Portugal, o BPI assinou ontem com o Fundo Europeu de Investimento um acordo de garantia para apoiar o financiamento de PME inovadoras, até 60 milhões de euros em dois anos, ao abrigo do instrumento de partilha de risco do Banco Europeu de Investimento.
Apesar da discussão sobre os juros, e dos números do FMI, o líder do BPI defendeu que a banca não está a cobrar juros assim tão altos. “Não se pode dizer que esteja assim tão alto, porque a Euribor está muito baixa. O que acontece é que há diferenças muito grandes na Europa, e deveria ser mais próximo entre os países. Mas esse problema exige muitos contributos, sobretudo a nível europeu, para a sua resolução”, disse Fernando Ulrich.iOnline
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